Título: Mulheres entram na arena eleitoral dispostas a driblar o preconceito
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 29/06/2008, O País, p. 4

Uma senadora e 15 deputadas federais são candidatas a comandar prefeituras

Maria Lima

BRASÍLIA. Num momento especialmente crítico para as gestões de governadoras como Yeda Crusius (RS) e Ana Julia Carepa (PA), e prefeitas como Luizianne Lins (Fortaleza), as mulheres que estão na corrida eleitoral deste ano têm que driblar dificuldades para provar que a questão do gênero não pode ser o foco das campanhas.

Só de deputadas federais são 15 na disputa, além de uma senadora, Patricia Saboya (PDT-CE). Esta travará uma guerra pela prefeitura de Fortaleza com outra mulher, a prefeita, a petista Luizianne Lins. Os principais cabos eleitorais de Patricia, que tem militância no combate à prostituição infantil, são o senador Tasso Jereissati (PSDB) e o deputado Ciro Gomes (PSB), que provocou nova polêmica ao declarar que "Fortaleza é um puteiro a céu aberto".

Patricia diz que vai mostrar o que Luizianne não fez para combater a prostituição. Já Luizianne diz que Ciro e Tasso vão mandar, se a adversária for eleita.

Patrícia troca acusações com Luizianne Lins

Ex-primeira dama do Ceará quando Ciro foi governador - os dois foram casados por mais de uma década - Patrícia acusa Luizianne de fazer ataques machistas. Ela reconhece que a declaração de Ciro foi infeliz, mas acredita que o povo no Ceará já conhece o estilo do ex-marido:

- A Luizianne foi tão vítima do machismo quanto eu. Diziam que ela não faria nada, que tinha um monte de cacique que iria mandar no seu governo.

No Sul, outras personagens têm histórias semelhantes. Apelidada pelos adversários de "Barbie do PT" pela loirice e beleza, a economista Gleisi Hoffmann, em Curitiba, enfrenta o mesmo preconceito, por ser mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Além de provar que não é só um rosto bonito, ou que se aproveite da influência do marido, ela terá de bater o espetacular índice de aprovação do atual prefeito, Beto Richa, do PSDB, acima dos 60%.

Gleisi começou como assessora do então deputado Paulo Bernardo, ocupou cargos no governo de Zeca do PT, em Mato Grosso do Sul, foi diretora da Itaipu, e em 2006 deu um sufoco em Álvaro Dias (PSDB-PR), quando teve mais de dois milhões de votos e quase lhe tirou a vaga no Senado.

- Ser mulher do ministro ajuda e atrapalha. Ajuda o fato de ele ser muito respeitado, conhecido e querido, além de ser meu principal conselheiro político. Por outro lado, dizem que só estou disputando por causa dele. Vou ter que me esforçar muito para mostrar que a candidatura é consequência da minha extensa militância e experiência.

- Há uma visão preconceituosa na mídia, que só se refere a ela como a esposa do ministro. Mas o povão lá no Paraná me chama de marido da Gleisi. Os adversários a chamavam de Barbie do PT, mas já estão começando a se preocupar - emenda Paulo Bernardo.

Em todo país, novatas na política tentam chegar ao topo da administração municipal. Uma delas é a apresentadora de TV Valéria Pires Franco, do DEM, mulher do deputado Vic Pires Franco, que disputa a prefeitura de Belém. Na capital paulista, a vereadora e ex-VJ da MTV Soninha entrou na briga com a poderosa Marta Suplicy (PT). E em Florianópolis a disputa seria entre duas Ângelas: a deputada estadual Ângela Albino (PCdoB) e a ex-prefeita Ângela Amin (PP). Mas esta última desistiu em favor do marido, Esperidão Amin.

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