Título: Mais do que culpas, discutir responsabilidade
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 29/06/2008, O Páis, p. 13

Com a lei, peritos ajudam as famílias a resolver seus conflitos

SÃO PAULO. Acostumadas a mediar processos de família, Lia Santos e Giselle Groeninga explicam que é importante discutir responsabilidades do casal, não culpas. A psicanalista Giselle diz que a guarda compartilhada afasta outro fantasma: a alienação parental, quando um dos pais faz tudo para afastar física e emocionalmente o ex-parceiro dos filhos.

Com a nova lei, as famílias podem ser recebidas por peritos. Se os conflitos para a decisão sobre escola, religião ou mesmo esportes que o filho vai praticar não tiverem solução, o caso volta aos tribunais. Mas a expectativa é que os processos de guarda compartilhada sejam mais rápidos. Segundo o IBGE, em 2006 houve 101 mil separações no país, sendo 77.300 consensuais. Entre as separações judiciais, pelo menos 67 mil eram de casais com filhos menores.

¿Minha filha é apaixonada pela mãe e pelo pai¿

O editor Analdino Rodrigues Paulino Neto brigou seis anos na Justiça para ficar mais perto da filha Amanda. Hoje morando em São Paulo, ele liga o computador e, pela webcam, está perto de Amanda, de 10 anos, em Ceres (GO).

¿ Minha irmã, em Ceres, faz a parte mais administrativa com a mãe da Amanda. Mas a guarda é compartilhada ¿ conta ele, presidente da Associação de Pais e Mães Separados (Apase).

Analdino separou-se quando a menina tinha 2 anos. Por dois anos não pôde vê-la. Quando ela tinha 8, a ex-mulher pediu para porem fim à briga. A guarda foi compartilhada.

¿ No início, lutei pela guarda unilateral. Meu trabalho é independente, sou dono do meu tempo e poderia ficar mais com a Amanda. A avó era quem mais cuidava da menina; a mãe dela era muito jovem, tinha vida de solteira.

Ele conta que a filha já pediu para morar com ele, mas hoje quer viver com a mãe:

¿ Minha filha é apaixonadíssima pela mãe e pelo pai.

O drama da separação vivido duas vezes

Pai do adolescente Guilhermi, Rogério Virgínio viveu o drama da separação dos dois lados, como pai e como filho. Quando criança, seu pai ficou com a guarda e o afastou da mãe, de quem perdeu contato por 20 anos. Em sua separação, houve desavenças, resolvidas com a guarda alternada. Enquanto disputava o filho com a ex-mulher, Virgínio descobriu o paradeiro da mãe, que, com distúrbios mentais, vivia num lixão de João Pessoa. Ele morava em Brasília, mas mudou-se para João Pessoa e cuidou da mãe. E Guilhermi vive com ele de novo:

¿ Perdoei meu pai. Ele teve motivos. Fico pensando que, se existisse guarda compartilhada nos anos 70, quando eles se separaram, nossa vida teria sido diferente.