Título: Um pessoal duro na queda
Autor: Feuerwerker, Alon
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2009, Política, p. 04

O Palácio do Planalto volta a depender do ¿PMDB do Senado¿, grupamento político aparentemente imune às tentativas palacianas de liquidá-lo

Do exterior, o presidente da República continua a despejar fogo verbal sobre a oposição, especialmente sobre o PSDB. O comportamento de Luiz Inácio Lula da Silva é só um sintoma de que algo saiu errado na maneira como o governo tratou a ameaça de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. É regra de ouro na política: quem está no controle não precisa falar grosso; se fala grosso, é porque talvez não esteja no controle. Lembram do primeiro debate no segundo turno de 2006? Geraldo Alckmin rugiu alto. E Lula ganhou.

Quem acompanha o Senado percebia que algo ruim se desenhava ali para o governo. A conversa nos corredores semana passada não era sobre a CPI da Petrobras, era sobre uma do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Ela não vingou, mas o governo aparentemente vai ter que engolir essa outra, bem mais indigesta. Os motivos formais para uma CPI do Dnit? Mais vagos ainda do que os invocados para investigar a Petrobras. Até aí nada. A História regista que um dia o PT quis criar a ¿CPI da Corrupção¿. Desde quando CPI precisa de ¿fato determinado¿?

A agressividade verbal do presidente da República ajuda a mobilizar sua base ideológica, mas não resolve um problema: com a CPI da Petrobras, PSDB e Democratas arrumaram assunto e também o que fazer nos próximos tempos. Não que faltassem outros temas, até mais suculentos. O Senado, poderia, por exemplo, ter instalado uma CPI para investigar por que o Banco Central manteve a taxa de juros congelada de outubro a março, enquanto o crédito secava e a economia mundial derretia. Mas tucanos e democratas no Congresso tratam a diretoria do BC como se deles fosse.

E que tal uma CPI das Terceirizações do Senado? Mas não vamos ficar no leite derramado. A curiosidade se volta agora para o que vai dar a CPI da Petrobras. Em teoria, o governo pode neutralizá-la. O Planalto tem encantos para tal. E o alvoroço entre os financiadores de campanhas anda forte. Um exemplo de como o governo pode acabar com CPIs é a das ONGs. Existem poucos assuntos mais necessitados de uma investigação em Brasília do que a festa das organizações não-governamentais com verbas públicas. Ou então a ingerência externa na Amazônia. Só que apesar do bom objeto a comissão não anda. O governo não deixa. E a oposição tampouco faz força.

Por que então o oficialismo está tão incomodado com a CPI da Petrobras? Em primeiro lugar, como escrevi no domingo, pelos potenciais constrangimentos à capacidade de operação política da empresa no período eleitoral. Em segundo lugar, pelo fato de o Palácio do Planalto voltar a depender do ¿PMDB do Senado¿, um grupamento que parece imune às tentativas palacianas e petistas de liquidá-lo.

Várias guerras depois, eis aí José Sarney (PMDB-AP), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR). Sarney sobreviveu à aliança PT-PSDB montada para derrotá-lo. Renan, a uma tentativa de cassação na qual o PT fez jogo duplo. E faltaria espaço nesta coluna para listar as ocasiões em que Jucá já escapou do fogo. Agora, o trio está de novo dando as cartas e jogando de mão.