Título: Preços aumentam até cinco vezes
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 29/06/2008, Economia, p. 30

Pescadores vendem a R$1, e comércio revende a R$5 Vender o peixe não é tarefa simples, nem mesmo para os pescadores. Na Ponta da Areia, bairro de Niterói, eles chegam do mar e vendem ali mesmo para os compradores do Mercado São Pedro. Em poucos metros, os preços aumentam cinco vezes. O quilo de peixes como cação e enxova na mão dos pescadores sai entre R$1 e R$1,50. Nas lojas do mercado, o valor varia entre R$4,50 e R$5. Um peroá, ou peixe-porco, como é conhecido popularmente, sai entre R$7 e R$8 o quilo. No mercado pula para R$13 ¿ alta de até 85,7%.

Porém, o que garante mesmo o sustento dos pescadores são as compras maiores, diz o pescador Walmir ¿Cabelinho¿. Por isso, quando as vendas não estão boas em um mercado, a estratégia é ir a outros centros próximos.

¿ O que baliza o preço é a demanda. Tem dias que não se vende nada. Aí, o preço começa a cair. Mas tudo tem um limite. Quando fica menor de R$1 o quilo, paramos a venda e vamos para outro lugar. Assim mantemos a cotação ¿ diz Walmir, que não completou o ensino médio, mas entende como qualquer economista a lei de oferta e demanda.

A falta de segurança é outro problema, diz o pescador Francisco Vieira Souto. Conhecido como Capitão, ele tem 62 anos e começou na profissão aos 9. Há duas semanas, ao chegar do mar, em Ponta da Areia, em Niterói, ele diz que viu seu colega de profissão perder dez dias de trabalho.

¿ Depois de descarregar os peixes, no trajeto até o Mercado São Pedro, foi assaltado. Nossa rotina é pesada. Saímos à noite e vamos para o mar. Colocamos a rede no mar todas as noites e, pela manhã, recolhemos. Já pesquei um tubarão com mais de dois metros no Rio. Aí, você volta do mar e te roubam tudo. É difícil ver 800 quilos de diferentes peixes irem embora em uma van. Aqui há pouca segurança ¿ conta.