Título: Mercosul: Lula prepara ajuda ao bloco
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 29/06/2008, Economia, p. 32

Petrobras e montadoras comprarão mais peças de empresas vizinhas

Eliane Oliveira* e Janaína Figueiredo**

TUCUMÁN, Argentina. O inferno astral dos Kirchner poderá dar um alívio ao casal na cúpula de presidentes do Mercosul, que começa hoje, na província argentina de Tucumán, no Norte do país. No encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará a disposição do Brasil de ajudar argentinos, paraguaios e uruguaios a venderem mais para empresas brasileiras, com o objetivo de aumentar as receitas dos sócios nas exportações ao mercado brasileiro. O apoio será em duas frentes: no setor automotivo e na área de petróleo e gás. Dado o alto nível de ineficiência industrial de Paraguai e Uruguai, a Argentina será a principal beneficiada.

Segundo o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri, a iniciativa será formalizada em Tucumán, com a criação de um grupo executivo que poderá tomar decisões sem depender de consenso - princípio que acaba atrapalhando mais do que ajudando o Mercosul a avançar como união aduaneira. Uma novidade é que o Brasil vai colocar dinheiro do Fundo de Convergência Estrutural (Focen) do bloco, cujo objetivo é reduzir as assimetrias econômicas na região. Os recursos se destinarão ao treinamento de mão-de-obra, melhora da qualidade do bem ou do serviço oferecido às montadoras e à Petrobras e certificação técnica.

O Focen conta, anualmente, com um repasse de US$100 milhões, dos quais 70% saem do Orçamento da União. Segundo o Itamaraty, o estoque atual é de US$225 milhões. Os recursos, porém, praticamente não têm sido usados, devido à burocracia do Mercosul. Com o grupo executivo que poderá atuar sem depender da concordância de todos os sócios, a expectativa é que os planos de integração produtiva no bloco finalmente saiam do papel. O dinheiro será liberado em até três meses, informou o presidente da ABDI:

- Queremos ajudar, mas não podemos obrigar as montadoras e a Petrobras a comprarem dos nossos parceiros. Eles precisam se adequar às exigências. Elegemos esses setores, porque são os únicos em que não há livre comércio no bloco, ou seja, o intercâmbio é administrado.

No caso do setor automotivo, ele disse que os fornecedores estão concentrados na cadeia produtiva. As indústrias automobilísticas exigem um alto padrão de qualidade.

- Não é só saber se a peça está boa. O fornecedor precisa estar em dia com os impostos, os métodos de controle são auditados, a mão-de-obra deve receber treinamento adequado, as matérias-primas são compradas com garantia - disse Arcuri.

Petrobras exige alto padrão de qualidade

Sobre petróleo e gás, a Petrobras só compra produtos se estes estiverem dentro dos padrões exigidos pela estatal. Para adquirir bens e serviços, a empresa só considera aqueles que estão previamente cadastrados.

- As subsidiárias da Petrobras nos quatro países vão identificar formas de expandir suas compras. Na Argentina, a empresa tem um papel mais dinâmico, com exploração de gás, transporte, distribuição e postos de gasolina. No Uruguai há postos de gasolina e distribuição de gás. No Paraguai, há apenas postos de gasolina. Até mesmo os equipamentos para os postos devem ter toda a especificação exigida - disse ele.

(*) Enviada especial

(**) Correspondente