Título: Lei seca já reduz venda de bebidas em 25%
Autor: Candida, Simone; Monteagudo, Clarissa
Fonte: O Globo, 01/07/2008, Rio, p. 21

Donos de bares e restaurantes prevêem queda ainda maior nos próximos fins de semana, diz sindicato.

A nova lei que impede os motoristas de dirigirem com qualquer quantidade de álcool no sangue já causou uma queda de cerca de 25% na venda de bebidas em restaurantes e bares da cidade. Segundo estimativas do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio (SindRio), desde que a lei entrou em vigor, há menos de duas semanas, a quantidade pedida de drinques, chopes, taças de vinho e afins vem caindo. De acordo com Pedro de Lamare, diretor de comunicação do SindRio, os empresários do setor esperam um declínio ainda maior nos próximos fins de semana.

- Com o resultado das operações, em que sete pessoas perderam as carteiras, e a divulgação das prisões, as pessoas ficarão ainda mais receosas e vão beber ainda menos - diz Pedro.

Teor etílico pode ser detectado horas depois

Apesar dos prejuízos para o setor, o SindRio apóia a lei.

- Ficamos divididos, mas não podemos deixar de apoiar, já que a legislação vai ajudar a combater o problema gravíssimo dos acidentes de trânsito causados por motoristas bêbados - diz o diretor do SindRio, que representa 19 mil estabelecimentos da cidade.

Por conta do novo decreto, o SindRio estuda a possibilidade de reeditar a campanha Anjos da Night, realizada no ano passado. Durante os fins de semana, promotores vestidos de anjo percorriam bares e casas noturnas, conscientizando os jovens da importância de não misturar álcool e direção. A idéia é adaptar a campanha a todas as faixas etárias.

Pelo menos quatro motoristas foram presos neste fim de semana, em estradas do Estado do Rio, por dirigirem embriagados. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, chega a sete o número de presos por misturar álcool e direção desde a publicação da lei federal que impede os motoristas de dirigirem com qualquer quantidade de álcool no sangue.

No Rio, pelo menos sete motoristas tiveram a carteira de habilitação apreendida durante a Operação Tolerância Zero, realizada no fim de semana. Um deles chegou a ser levado para a 14ª DP (Leblon), mas foi liberado em seguida. Todos foram submetidos ao teste do etilômetro - equipamento que mede o nível de álcool no organismo. De acordo com PM, ao todo 145 veículos foram abordados nas blitzes, que tiveram três motos e 12 carros apreendidos, sendo sete por problemas relacionados a bebida.

Mas não é só diante do copo que os motoristas deverão pensar na lei seca. Até entre os travesseiros é bom estar atento para não descuidar do tempo de sono necessário para não ter o álcool detectado no hálito ou no sangue, após uma bebedeira.

- Quem beber muito a noite toda e dormir poucas horas provavelmente será incriminado se for submetido ao teste na manhã seguinte. O corpo humano não é matemático, cada um metaboliza o álcool a seu tempo. Mas a média é uma hora de sono por chope ingerido - diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool.

Horas após a ingestão pode haver indícios da bebida.

- Se a pessoa beber bastante, em 12 horas com certeza ainda haverá álcool no sangue. Algumas pessoas, se ingerirem dois chopes, ainda terão sinais seis horas depois - explica a nutróloga da UFRJ Melanie Rodacke.

A lei seca ainda promete gerar muita polêmica. Consideradas exageradamente rigorosas pela Associação Nacional de Assistência ao Consumidor e ao Trabalhador (Anacont), as novas regras poderão ser contestadas na Justiça. Presidente da entidade, o advogado José Roberto de Oliveira planeja um mandado de segurança preventivo para que o motorista possa obter na Justiça autorização para se recusar a fazer o exame do teor alcoólico caso seja parado pela fiscalização nas ruas.

- A lei é inconstitucional porque ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. É um constrangimento ilegal. Não sou contra o teste do bafômetro, mas contra a violência do teste - diz ele.

PRF prevê redução de acidentes

Quem fiscaliza o trânsito, entretanto, apóia a lei. Segundo o inspetor da Polícia Rodoviária Federal André Luiz Azevedo, é possível que haja redução no número de acidentes a médio prazo.

- Nenhuma lei muda o comportamento dos motoristas de um dia para outro. Mas, dentro de três meses, no mínimo, esperamos uma diminuição. Os motoristas estão refletindo - afirma André.

* Do Extra