Título: Setor público faz economia recorde, mas inflação eleva gasto com juros
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 01/07/2008, Economia, p. 24
Superávit primário atinge R$13,2 bi em maio, e encargos da dívida, R$16,1 bi.
BRASÍLIA. O setor público registrou em maio uma economia recorde para pagamento de juros. O superávit primário conjunto de União, estados, municípios e estatais ficou em R$13,207 bilhões. No entanto, as despesas com os encargos da dívida aumentaram quase 10% sobre abril, num reflexo da escalada dos preços sobre a política fiscal. Isso decorre do fato de cerca de 30% do endividamento oficial estarem atrelados a índices de inflação, que passam por fase de forte alta.
O crescimento do gasto com juros - de R$14,870 bilhões em abril para R$16,173 bilhões em maio - fez com que o país voltasse a registrar déficit nominal após dois meses operando no azul - ou seja, arrecadando o suficiente para pagar todas as despesas, inclusive com os encargos da dívida. O descasamento foi de R$2,966 bilhões. O BC aumentou a projeção de gastos com juros em 2008 de 5,4% para 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).
No acumulado de 2008, porém, há superávit nominal de R$3,919 bilhões. É a primeira vez que o setor público tem saldo positivo nos cinco primeiros meses de um ano. Por isso, o BC revisou, de 1,6% do PIB para 1,5%, sua previsão de déficit nominal anual.
- A inflação traz impacto na carga de juros - explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Relação dívida/PIB tem menor patamar desde 98
Em maio, o gasto com juros foi o maior do ano, correspondendo a 6,06% do PIB num fluxo de 12 meses. O cenário só não é mais preocupante porque, por outro lado, a dívida também tem uma parcela significativa de títulos prefixados, que ainda não refletem a recente alta nos juros básicos da economia, e outra atrelada ao câmbio, que está valorizado, ou seja, demanda desembolsos menores.
Combinados, esses fatores equilibram a relação dívida/PIB, um dos principais indicadores econômicos avaliados pelas agências de classificação de risco. Em maio, ela fechou a 40,8% - o menor patamar desde dezembro de 1998 (38,9%). O BC revisou sua projeção para o ano de 41,3% para 40,5%.
- Não vejo um cenário muito ruim a médio prazo porque, por um lado, se a inflação piora o pagamento de juros, por outro ela corrige o PIB e, assim, melhora a relação dívida/PIB - afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves.
Em maio, ao superar os R$13 bilhões, o superávit primário foi o melhor resultado para aquele mês da série histórica do BC, iniciada em 1991. Num fluxo de 12 meses, a economia corresponde a 4,34% do PIB, acima da meta ajustada do governo para o ano, de 4,3%.
O grande destaque foi o desempenho dos estados, com saldo positivo de R$3,535 bilhões, quase R$1 bilhão a mais que em maio de 2007 (R$2,849 bilhões), por causa de repasses da União, inclusive royalties. Também se destacaram as estatais, que, justamente por não terem feito pagamento de dividendos ou royalties, registraram superávit primário de R$4,586 bilhões no mês, recorde para o período.
- Os governos também estão arrecadando mais impostos, e isso ajuda no superávit - complementou Lopes.