Título: Lobão critica Gabrielli e diz defender interesse dos brasileiros no pré-sal
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 01/07/2008, Economia, p. 26
Para ministro, presidente da Petrobras "torce pela empresa", não pelo povo.
SÃO PAULO e LONDRES. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que "defende o interesse do povo brasileiro" quando propõe a criação de uma nova estatal para administrar as reservas petrolíferas da camada pré-sal. Lobão deve apresentar em até 60 dias a conclusão de estudos para alterar o atual modelo de exploração de petróleo no país. A criação da nova estatal foi criticada pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" publicada ontem. Para ele, a mudança lesaria a empresa.
- O doutor Gabrielli é presidente de uma empresa privada. E, portanto, torce pelos interesses dela. E eu defendo o interesse do povo brasileiro - disse o ministro, frisando que 60% do capital total da Petrobras pertencem hoje a investidores privados.
Para Lobão, que participou de almoço com empresários em São Paulo, a mudança de regras não resultará na quebra de contratos existentes.
- Constituí um grupo de trabalho para estudar a legislação dos países, sobretudo daqueles que têm o monopólio (do petróleo), e vamos fazer uma proposta para alterar a lei atual - disse ele. - Compreendo que existam interesses daqueles que querem manter o status quo.
Decisão sobre Jupiá e Ilha Solteira sai em até 40 dias
Gabrielli está em Madri, para o 19º Congresso Mundial de Petróleo, e preferiu não comentar as declarações do ministro, segundo a Petrobras.
Pelo modelo proposto pelo Ministério das Minas e Energia, a nova estatal contrataria a Petrobras e outras petroleiras como prestadoras de serviços. A idéia também é combatida pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, que reúne as grandes empresas do setor.
Lobão afirmou ainda que em até 40 dias terá uma resposta quanto à renovação das concessões das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, que expiram em 2015. A falta dessa garantia levou ao fracasso do leilão da Companhia Energética de São Paulo (Cesp).
O ministro reiterou que pretende atrair o setor privado para a construção de três novas usinas nucleares no Nordeste e Centro-Sul. Mas a Eletrobrás permaneceria como controladora dos empreendimentos.
Ontem, o jornal inglês "Financial Times" publicou um caderno especial sobre energia, com o panorama de vários países. O Brasil foi alvo de um artigo, que discorria sobre as recentes descobertas do pré-sal. O jornal ressaltou as dificuldades físicas de se explorar na região e lembrou que a indefinição do marco regulatório é um entrave para novos investimentos. Diz o texto: Há "um risco maior enfrentado pelas petrolíferas que queiram trabalhar nos campos do pré-sal é a incerteza sobre as regulações da indústria". O presidente da Petrobras foi citado também em outro artigo como um dos expoentes da indústria petrolífera, ao lado dos diretores-executivos de BP, ExxonMobil e Eni.