Título: Líderes africanos pressionam Mugabe a negociar
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Fonte: O Globo, 01/07/2008, O Mundo, p. 29

Quênia defende suspensão do ditador da União Africana. EUA podem impor sanções unilaterais.

HARARE. Líderes africanos reunidos na XI Cúpula da União Africana (UA) pressionaram ontem o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, a negociar com a oposição, depois da vitória nas eleições em que figurou como candidato único, num pleito classificado por observadores como injusto e violento.

Ontem, na mais contundente crítica vinda da África ¿ onde Mugabe ainda conta com respaldo de alguns países ¿ o primeiro-ministro queniano, Raila Odinga, pediu a suspensão do ditador da UA.

¿ A UA abrirá um perigoso precedente se permitir que Mugabe participe de seus encontros ¿ afirmou. ¿ Deveriam suspendê-lo e enviar forças de paz ao Zimbábue para assegurar eleições livres e justas.

Já o presidente do Quênia, Mwai Kibaki, disse que as negociações por um governo de coalizão eram a única solução.

Analistas apontam o Quênia como um modelo de possível solução para a crise no Zimbábue. Odinga foi eleito primeiro-ministro num acordo de poder compartilhado para encerrar uma onda de violência política que fez 1.500 mortos no país.

EUA rascunham sanções para apresentar à ONU

O partido de oposição MDC pediu que a UA indique três enviados africanos para trabalharem na crise.

A oposição afirma estar preparada para negociar com Mugabe, mas diz que ainda não há conversas em andamento. O líder do MDC, Morgan Tsvangirai, retirou a candidatura dias antes da eleição por causa da onda de assassinatos e torturas contra seus partidários. Um bebê de 11 meses chegou a ter as duas pernas quebradas por torturadores de Mugabe numa tentativa de forçar a mãe da criança a revelar o paradeiro do pai.

Os EUA devem apresentar amanhã ao Conselho de Segurança da ONU o rascunho de uma resolução que não reconhece a vitória de Mugabe e impõe um embargo à venda de armas.

Mas diplomatas do conselho disseram que será difícil convencer a África do Sul, Rússia, China e outros países a ratificarem o texto de sete páginas. A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, indicou que os Estados Unidos podem impor sanções unilaterais ao país.

Em mais uma afronta à comunidade internacional, Mugabe também chamou ontem de ¿estúpidos¿ um grupo de jornalistas britânicos que o cumprimentaram na cúpula por ¿roubar as eleições¿ da semana passada.