Título: Saída de recursos do Brasil dobra em junho e atinge US$5,5 bilhões
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 03/07/2008, Economia, p. 24

AMEAÇA GLOBAL: Com crise nos EUA, remessas de multinacionais crescem.

Resultado da conta financeira no mês passado foi o pior desde janeiro.

BRASÍLIA. O recrudescimento da turbulência nos mercados na reta final de junho levou os investidores a sacarem recursos maciçamente do Brasil. Nos últimos nove dias do mês passado, deixaram o país - já descontadas as entradas - US$4,592 bilhões pela conta financeira, na qual são computados investimentos estrangeiros em carteira e diretos e remessas de lucros e dividendos. Como até o dia 21 haviam saído US$986 milhões, o saldo mensal ficou negativo em US$5,578 bilhões, o pior desempenho desde janeiro (US$6,530 bilhões).

Em maio, as saídas haviam sido de US$2,774 bilhões. Para especialistas, os números de junho do país refletem tanto a continuação do envio robusto de lucros e dividendos ao exterior - em parte, as multinacionais estão ajudando a compensar resultados fracos de suas matrizes, devido à crise nos Estados Unidos - quanto a debandada da Bovespa.

Corretora registrou alta de 70% nas remessas em junho

A bolsa brasileira teve um junho no vermelho (-10,43%). Segundo a Bovespa, até o último dia 27, as saídas líquidas de investimento estrangeiro chegavam a quase R$7,8 bilhões, ou US$4,8 bilhões, de longe o pior resultado mensal do ano. O último, até então, era o déficit de R$4,731 bilhões em janeiro.

- Só aqui na corretora, aumentamos a intermediação de remessas de lucros e dividendos em 70% em junho - relatou a diretora de Câmbio da corretora AGK, Míriam Tavares.

- Estamos vendo fortes saídas da bolsa por conta do cenário mais crítico. Mas, mesmo assim, o dólar continua depreciando (frente ao real, na casa de R$1,60) e deve ficar assim - afirmou o superintendente de Tesouraria do banco Banif, Rodrigo Trotta.

Perda da conta financeira chega a US$14,6 bi no ano

O resultado da conta financeira de junho deveu-se a compras de US$49,489 bilhões e vendas de US$55,067 bilhões. No ano, a perda líquida da conta financeira já acumula US$14,617 bilhões. Em igual período de 2007, o saldo estava positivo em US$5,710 bilhões.

Com o déficit financeiro, o fluxo cambial geral - que é a entrada e saída de moeda estrangeira do país - ficou em junho com déficit de US$877 milhões, o primeiro desde janeiro passado. Mas, no semestre, o saldo total ainda está positivo em US$14,934 bilhões, puxado pela conta comercial.

No ano, esta conta tem superávit de US$29,551 bilhões, 35,64% menor que no mesmo período de 2007. Em junho, foram US$4,7 bilhões, com exportações de US$17,739 bilhões e importações de US$13,039 bilhões.

Apesar de ainda no azul, claramente o fluxo cambial comercial tem perdido força ao longo deste ano, sobretudo com o crescimento das importações. No ano, por exemplo, elas somaram US$66,728 bilhões até junho, 44,27% a mais do que em igual período de 2007. Já as exportações, por conta do dólar enfraquecido, somaram US$96,278 bilhões no ano, apenas 4,46% a mais no período.

O Banco Central informou ainda que a posição comprada dos bancos, quando as apostas são de que o dólar pode subir, fechou junho em US$7,336 bilhões.