Título: Alimentos não devem recuar com medidas
Autor: Carvalho, Ana Paula de
Fonte: O Globo, 03/07/2008, Economia, p. 29

Consumidor precisa se acostumar a novo patamar de preços.

CURITIBA e RIO. As medidas de estímulo ao produtor rural, segundo especialistas, não garantem reduções nos preços dos alimentos para os brasileiros. Mas podem, com ajuda da safra recorde, frear novas altas, dizem eles.

- Não se espera um retorno dos preços. Então, o consumidor precisa se acostumar a um novo patamar de preços. Ainda mais com estoques mundiais baixos, demanda forte e problemas climáticos mais freqüentes - disse João Philippe Bragança, economista da Paraty Investimentos, para quem os alimentos devem subir 8% em 2009. - Os preços devem subir, mas menos que este ano. Até maio, o grupo variou 15%.

Para José de Souza, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, a safra recorde neste ano não resolverá os problemas para o consumidor:

- A safra fortalece o Brasil como grande produtor de alimentos para o mundo. Mas isso não significa preços menores.

Segundo Mauro Andreazzi, do IBGE, a iniciativa é um estímulo ao produtor e pode ampliar a oferta de produtos. Há, porém, outros fatores que pesam para formar preços:

- O Brasil não dita mais seus preços. O petróleo, sim, determina preços ao ditar os valores de fertilizantes. Os custos da produção estão elevados. Então, safra recorde ou medidas para os produtos não garantem preços menores. Os preços podem não subir tanto ou não subir.

Lula defende renegociação de dívida dos produtores

Em relação às dívidas dos produtores, Lula defendeu, durante o lançamento do novo plano, a renegociação, em discussão no Congresso:

- Se quisermos receber, temos de dar condições de as pessoas pagarem. Não adiante ficar castigando a vida inteira se não vai receber.

Segundo ele, a renegociação vai "desbloquear" a agricultura para que "possa ser muito mais produtiva do que foi até agora". A medida provisória costurada pelo governo prevê algum tipo de benefício para R$72 bilhões em débitos do setor rural, de um total de R$87,5 bilhões.

Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, cobrou do governo desoneração tributária sobre insumos:

- A infra-estrutura e a defesa sanitária são gargalos para a agricultura. Além disso, alguns pontos da MP 432, que trata da renegociação das dívidas, precisam ser aperfeiçoados.

O plano elevou ainda em 60,8% o orçamento do programa Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural e eliminou a taxa de 4% nos financiamentos do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas. E o governo lançou financiamento de R$1 bilhão para recuperar pastagens degradadas. (Ana Paula de Carvalho e Fabiana Ribeiro)