Título: Doenças atingem crianças mais pobres
Autor: Franco, Bernardo Mello ; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 04/07/2008, O País, p. 8
No Norte e no Nordeste, diarréia é causa comum de internações e mortes
BRASÍLIA. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) mostra como a saúde das crianças continua a ser um alvo preferencial da pobreza. De acordo com o estudo, os menores de 5 anos que moram nas regiões mais pobres do país sofrem mais de diarréia, um sintoma típico de má alimentação, falta de saneamento e consumo de água contaminada. Nos casos mais graves, a diarréia pode levar à morte por desidratação. No Norte, 27,7% das crianças tiveram a doença nos três meses anteriores à visita dos pesquisadores. No Sudeste, o percentual cai para 18,7%.
Entre as crianças que foram internadas em hospitais no mesmo período, a diarréia foi responsável por 36,4% dos casos no Norte, contra apenas 7,4% no Sudeste. "Sabe-se que a diarréia ainda é considerada um importante problema de saúde pública e, em algumas regiões e segmentos populacionais, permanece como causa comum de internação e mortes infantis", diz o capítulo do estudo dedicado à saúde das crianças, escrito pelas pesquisadoras Estela Pinto da Cunha e Raquel Eichman Jakob.
No Nordeste, 94,9% buscam atendimento na rede pública
A pesquisa também mostra que as mães das regiões mais pobres dependem mais do atendimento na rede pública de saúde. No Nordeste, 94,9% das mulheres que buscaram atendimento para crianças com diarréia bateram na porta de hospitais ou postos médicos do Sistema Único de Saúde (SUS), e só 3,7% buscaram a rede privada. No Sul, a taxa de atendimento em consultórios e hospitais privados foi dez vezes maior: 37,4%, contra 62,6% na rede do SUS.
Ao examinar os números da mortalidade infantil, as pesquisadoras concluíram que a escolaridade das mães está diretamente ligada à possibilidade de morte das crianças. Segundo o estudo, no caso das mães que não completaram quatro anos de estudo, o risco de morte de seus filhos é 46% superior ao daquelas que superaram os oito anos de instrução, e 40% mais elevado entre aquelas com 4 a 7 anos de estudo (ensino fundamental incompleto). "Fica evidente a importância deste fator social como condicionante decisivo do fenômeno", diz o relatório.
De acordo com o estudo, as crianças filhas de mães negras ainda estão mais sujeitas à morte antes de completar 12 meses de vida. "As crianças menores de 1 ano cujas mães declararam ser negras apresentam uma situação de desvantagem em relação às brancas, com um nível de mortalidade infantil 25% mais elevado", afirmam as pesquisadoras.