Título: Trabalho dobrado contra inflação
Autor: Novo, Aguinaldo ; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 04/07/2008, Economia, p. 25

Demanda por dados cresce e instituições que pesquisam e analisam preços investem mais

Aguinaldo Novo e Bruno Rosa

Orepique da inflação nos últimos meses - o IGP-M está em 13,44% em 12 meses e o IPCA, que acumula 5,58%, deve romper o teto da meta oficial - provocou no mercado uma corrida das empresas por produtos sofisticados que antecipem a trajetória dos preços. Informações desse tipo se tornaram vitais para o dia-a-dia dos negócios. Instituições como a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Nielsen Brasil confirmam a demanda crescente por suas pesquisas. Já bancos e gestores de recursos estão reforçando suas equipes de pesquisa e análise de dados.

Na Nielsen Brasil, segundo Filipe Aboláfio, coordenador de pesquisas especiais, a demanda tem aumentado desde janeiro. São 600 pessoas coletando preços de 150 categorias de produtos pelo país toda semana.

- Há um maior interesse das empresas por informações. Elas querem saber como a inflação afeta as vendas de algumas categorias. As empresas têm pedido estudos sobre o preço ideal para seus produtos em um momento como este. Por isso, aumentamos o esforço para atender a essa demanda - explica Aboláfio.

Investimentos em sistema e em equipe

Na Paraty Investimentos, a coleta de preços tem tratamento prioritário. De acordo com o sócio Marco Antônio Franklin, o acompanhamento da inflação é o foco da empresa. Este ano, diz ele, houve mais investimentos na área de análise de dados, com a compra de modelos de sistema e reforço de pessoal para a área. Na gestora de recursos, os preços são acompanhados no varejo e no atacado.

- Temos coletoras de preços para pesquisar o varejo. Para saber a variação no atacado, investimos em especialistas para identificar a tendência de preços com diferentes companhias, como produtores e exportadores. Acompanho os preços há 20 anos. Em 2009, a pressão vai continuar - diz.

Superintendente da área comercial da FGV, Túlio Barbosa diz que todos os clientes que consultavam gratuitamente o "Monitor da Inflação" durante o período de testes passaram a pagar pelo produto. Lançada no fim do ano passado, a publicação se baseia em pesquisa de preços em sete capitais. O resultado é uma projeção diária do IPCA, índice oficial de inflação.

- Todo dia, às 8h, o cliente recebe os dados em seu computador - afirma Barbosa, que não divulga números de clientes nem projeções de novos cadastros. - A demanda é crescente.

Na Fecomércio-RJ, o dia-a-dia dos cerca de 40 coletores mudou. João Carlos Gomes, Coordenador do Núcleo Econômico da instituição, ressalta que novas perguntas entraram no questionário. Já os economistas, que analisam os dados, gastam mais tempo com as interpretações:

- Estamos em um processo de reestruturação para fazer novas pesquisas e projetos.

A preocupação também existe nas empresas. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) criou, no fim de 2007, um Grupo de Acompanhamento de Abastecimento e Preços.

- O objetivo é mapear a evolução das negociações comerciais ou antecipar reajustes nos preços das matérias-primas - explica o diretor do Departamento de Economia do sindicato, Eduardo Zaidan.

- Antes, nosso foco era tentar acertar a segunda casa decimal do índice de inflação. Agora, com a tensão, quero saber se o resultado será 0,6% ou 0,8%, e se tem força para continuar subindo - diz o estrategista de investimentos sênior para a América Latina do Banco WestLB, Roberto Padovani.

PETRÓLEO BATE NOVO RECORDE, na página 26

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