Título: Líderes costuram ajuda para compensar alta de alimentos
Autor: Scofield Jr, Gilberto
Fonte: O Globo, 07/07/2008, Economia, p. 14

Países pobres teriam dinheiro a fundo perdido

NISEKO, (Japão). Diante da relutância dos países ricos em mexer na questão do petróleo, os esforços em Hokkaido, no Japão, parecem convergir para o problema da alta nos preços dos alimentos (e da conseqüente inflação mundial). Hoje, um grupo de sete países africanos convidados para a reunião do G-8 vai cobrar mais ajuda financeira e mais oferta de alimentos para as nações pobres, especialmente de Ásia, África e América Central, onde acontecem protestos populares e crises políticas.

O projeto que começa a ser esboçado em Hokkaido, segundo diplomatas, buscará resolver o problema em três flancos. A primeira medida prevê o apoio financeiro, provavelmente a fundo perdido, para ajudar os 50 países mais afetados pela fome a comprar alimentos em caráter emergencial. Também está em discussão a criação de uma espécie de superestoque, com grãos fornecidos por cada país de acordo com cotas a serem fixadas futuramente. Esta é uma sugestão do Japão, país com o maior estoque de arroz hoje no mundo.

E, finalmente, está sendo esboçado um fundo de US$10 bilhões, a ser gerenciado pelo Banco Mundial ou pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para ajudar os países a resolver gargalos na produção de grãos e no transporte de alimentos, este último afetado pelos altos preços do petróleo.

A chanceler alemã Angela Merkel enviou uma mensagem aos líderes do G-8 pedindo uma ação urgente contra a crise. Um grupo de trabalho liderado por especialistas alemães chegou à conclusão de que os 30 países mais pobres do mundo vão precisar de US$20 bilhões para a compra de alimentos. O governo da Alemanha já se comprometeu a destinar US$750 milhões para a ajuda emergencial.

"A crise dos alimentos ameaça a democratização, desestabiliza os países e leva a problemas de segurança internacional", disse Merkel na carta enviada aos líderes e reproduzida na revista alemã "Der Spiegel".

Segundo o Banco Mundial, a crise dos alimentos já empurrou cem milhões de pessoas de volta para baixo da linha da pobreza. Caso o encontro entre o G-8 e o G-5 avance, a idéia é criar um grupo de trabalho especial para executar o plano de combate à falta de alimentos, que os especialistas atribuem não apenas ao crescimento econômico mundial, mas também à falta de investimentos na expansão da produção agrícola.

- As crises do petróleo e dos alimentos estão tendo um impacto negativo na economia mundial - disse o premier japonês Yasuo Fukuda. (G.S.J)