Título: Testemunha vincula Chávez a caso da mala
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Fonte: O Globo, 07/07/2008, O Globo, p. 20

Presidente da Venezuela estaria pessoalmente envolvido no escândalo, diz registro da corte

MIAMI. O venezuelano Carlos Kauffmann, testemunha do governo americano no "escândalo da mala" da Argentina, contou em depoimento que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, esteve pessoalmente envolvido no caso. A revelação foi feita por um advogado de defesa que atua no caso e está registrada em arquivo da corte.

Kauffmann era acusado pelo governo dos EUA de ter participado da tentativa de encobrir o envio ilegal de US$790 mil para a campanha eleitoral da atual presidente da Argentina, Cristina Kirchner. O dinheiro foi descoberto numa mala num jatinho que acabava de aterrissar num aeroporto de Buenos Aires e teria sido supostamente enviado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Kauffmann se declarava inocente, mas, em março, se disse culpado das acusações, tornando-se, então, testemunha do governo americano. Ele concordou em testemunhar contra seu ex-parceiro Franklin Duran em troca de uma redução de pena.

De acordo com registros dos arquivos do processo, o advogado de Duran, Edward Shohat, sustenta que Kauffmann contou em depoimento a agentes do FBI que um terceiro acusado disse a ele que Chávez estava pessoalmente envolvido no envio do dinheiro para a Argentina.

O também venezuelano Moisés Maionica teria contado a Kauffmann que foi Chávez quem colocou o chefe do serviço de inteligência Henry Rangel Silva na coordenação e foi o próprio Silva quem contou a ele sobre o envolvimento do presidente. O relato é feito pelo advogado de Duran e data do último dia 27 de junho.

Duran será julgado em Miami em 2 de setembro, acusado de violar as leis americanas de lobby. Os venezuelanos Kauffman, Maionica e Duran e o uruguaio Rodolfo Wanseele Paciello teriam atuado em território americano como agentes do governo Hugo Chávez na missão de pressionar Guido Alejandro Antonini Wilson a não revelar a origem dos US$790 mil.

Torrente de denúncias de corrupção na Argentina

Wilson foi preso no aeroporto ao tentar entrar na Argentina com a mala de dinheiro, às vésperas de um encontro entre Chávez e o então presidente argentino Néstor Kirchner. Paciello teria intermediado o encontro de um agente da inteligência da Venezuela com Wilson com o objetivo de encobrir a origem do dinheiro. De acordo com promotores americanos, os agentes venezuelanos teriam oferecido a Wilson US$2 milhões.

A prisão de Wilson e a posterior abertura do processo americano levaram a uma torrente de denúncias de corrupção na Argentina. Os governos da Argentina e da Venezuela têm evitado declarações sobre o assunto. Desde que o escândalo da mala veio à tona, em agosto, ambos acusam os EUA de estarem por trás de uma operação voltada a estremecer a aliança estratégica entre Chávez e Kirchner.