Título: Na frente, com eleitorados distintos
Autor: Jungblut, Cristiane; Lima, Ludmilla de
Fonte: O Globo, 08/07/2008, O País, p. 3

Dois primeiros colocados, Crivella e Jandira têm votação diferente; quadro é indefinido.

Os dois candidatos a prefeito do Rio mais bem colocados nas pesquisas terão que trilhar caminhos opostos para tentar consolidar a posição no páreo eleitoral. Marcelo Crivella (PRB) precisa ir na direção do chamado voto de opinião. E Jandira Feghali (PCdoB), do eleitorado popular. Os dados da pesquisa Datafolha mostram que o pior desempenho de Crivella está justamente onde Jandira se sobressai. E vice-versa. Entre os eleitores que ganham mais de dez salários mínimos, o percentual do senador é de 16%, contra 22% da adversária. Já entre os que ganham menos de dois salários mínimos, o percentual de Jandira é de 16%, contra 32% do candidato do PRB. A consulta, feita no dia 3 de julho ouvindo 812 eleitores, mostrou o senador com 26% do total de intenções de voto, contra 17% de Jandira.

- Há um confronto ideológico muito nítido entre os dois. E, do ponto de vista eleitoral, ambos terão que disputar votos na seara do outro. Porque nenhum dos dois pode ganhar sem ampliar seus eleitorados - avalia o cientista político Marcus Figueiredo, do Iuperj.

Quando o eixo é a escolaridade, a diferença de perfis entre Jandira e o senador se consolida ainda mais: o maior percentual de eleitores de Crivella está entre os que declararam ter estudado até o ensino fundamental (31%). Entre os que completaram o ensino superior, o percentual de foi de 10%. Entre esses eleitores, o da ex-deputada Jandira Feghali, que é de 17% entre os que têm ensino fundamental, chega a 22%.

A rejeição a Crivella é maior entre os eleitores de nível superior (45%) e entre os que ganham de 5 a 10 salários mínimos (41%). A rejeição a Jandira é grande entre os que estudaram até o ensino fundamental (15%). Jandira argumenta que, em 2006, na campanha derrotada para o Senado, teve 40% dos votos na Zona Oeste da cidade:

- Hoje, sou uma candidata que tem a homogeneidade. Não tenho mais a segmentação que alguns têm. É muito bom ter um voto consolidado. Mas minha alegria é que já consegui chegar há alguns anos à grande área popular do Rio.

Gabeira tem melhor desempenho entre os que ganham mais

O senador disse, por sua assessoria, que tem "presença forte" entre os eleitores das zonas Oeste e Norte. E que seu trabalho tem sido o de "ampliar e quebrar resistência e rótulos".

O professor Eurico Figueiredo, do departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta os desafios:

- O enigma do Crivella é como ser pentecostal, sem ser. Tem que manter o que tem e conquistar o que não tem. Ele tem que mostrar que não é candidato apenas da comunidade, mas da sociedade. Já a Jandira precisa ponderar: como ser uma candidata moderna, progressista, mas sem agredir a consciência conservadora dos moradores do município.

O melhor desempenho do deputado federal Fernando Gabeira (PV) é entre os que ganham mais de dez salários mínimos. Nessa faixa, Gabeira, que ficou em quinto lugar na pesquisa, com 7% das intenções de voto, registrou 22%.

No recorte religioso da pesquisa, Crivella aparece com o percentual mais alto entre os entrevistados que se declararam evangélicos pentecostais (51%). Já entre os católicos, a maior rejeição: 33%. A deputada Solange Amaral (DEM), que aparece em terceiro lugar na pesquisa, com 10% do eleitorado, tem maior rejeição entre evangélicos pentecostais (25%) e não-pentecostais (26%). Entre os católicos, o percentual de Crivella e de Jandira é o mesmo - 19%. Contra 11% de Solange, 10% de Paes e 6% de Gabeira.

O resultado de Gabeira é melhor entre os que declaram não ter religião (15%). No total da pesquisa, ele figura em quinto lugar, com 7%. O ex-deputado Eduardo Paes aparece em quarto, com 9%; Alessandro Molon (PT) em sexto, com 3%, e o deputado Chico Alencar (PSOL) em sétimo, com 3%.