Título: Emendas só para Crivella ver
Autor: Jungblut, Cristiane; Lima, Ludmilla de
Fonte: O Globo, 08/07/2008, O País, p. 3

Governo Lula libera tudo o que senador pediu, mas nada para Solange, Gabeira e Chico.

Dos quatro parlamentares do Rio que disputam a prefeitura da capital, apenas o candidato do PRB, senador Marcelo Crivella, foi agraciado pelo governo Lula na enxurrada de empenhos (autorização de pagamento futuro) de emendas ao Orçamento feita até sexta-feira, último dia permitido pela lei eleitoral. Crivella conseguiu, na sexta-feira, o empenho de R$7,1 milhões, 100% de uma emenda pura individual apresentada por ele ao Orçamento de 2008. Os demais parlamentares que são adversários de Crivella na disputa - Chico Alencar (PSOL), Solange Amaral (DEM) e Fernando Gabeira (PV) - não viram suas emendas liberadas dentro do prazo. Agora, terão que aguardar o fim das eleições, quando o governo poderá voltar a autorizar os pagamentos.

Nos dias 3 e 4 de junho, o governo acelerou as autorizações. Segundo levantamento do PSDB junto ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo (Siafi) que levou em conta apenas as emendas individuais puras, ou seja, com um único autor, os recursos da emenda individual de Crivella foram destinados a programa de habitação em assentamentos precários em municípios do Estado do Rio. No caso de Chico Alencar, ele incluiu R$5 milhões em emendas individuais puras, mas não obteve liberação. Também Solange, que apresentara R$5,5 milhões, e Gabeira, que pedira R$3,5 milhões, ficaram sem nada. Deputados podem apresentar emendas que somem até R$8 milhões.

Para Solange, a decisão do governo desequilibra a disputa. Ela esperava um total de emendas de R$7.494.000, todas para o estado.

- Isso é um intervenção do governo para desequilibrar o processo. O que vale é o candidato, não as instituições - disse ela, lamentando que as emendas de R$500 mil para a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) e outros R$500 mil para a Associação de Assistência à Criança Surda não foram contempladas.

Gabeira não lembra de ter ocorrido o mesmo em outros anos. Ele apresentou 18 para 2008, sendo dez para o Estado do Rio, num total de R$7.020.000. Entre os projetos, a recuperação das unidades de São Cristóvão do Colégio Pedro II, que é federal, obra avaliada em R$300 mil.

- Os fatos dispensam comentários. Isso se deve à minha atuação parlamentar. Mas, se eleito, essa relação com o governo vai melhorar.

Para Chico Alencar, a atitude do governo Lula abre espaço para um clientelismo político:

- Proponho as emendas porque está na lei. Mas não as acompanho, nem fico cobrando do governo. Mas quando abrem o caixa para obter vitórias em votação, aí denuncio e questiono - disse Chico, que aguardava R$8 milhões para 11 propostas, todas destinadas ao estado.

Marcelo Crivella, por meio de sua assessoria, disse que o sucesso junto ao governo Lula se deve ao empenho em acompanhar as emendas e cobrar a liberação de recursos.

Em outros estados, oposição foi beneficiada

Na autorização das emendas, o governo privilegiou aliados, mas também beneficiou oposicionistas candidatos. É o caso do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), candidato a prefeito de Salvador, que conseguiu o empenho de R$450 mil dos R$3,5 milhões que destinou a projetos de seu estado no Orçamento. Curiosamente, o deputado Walter Pinheiro (PT), adversário de Neto na disputa, não viu liberado um centavo sequer do total de R$800 mil pedidos.

Em Porto Alegre, o governo Lula beneficiou as três deputadas-candidatas: Manuela D´Ávila (PCdoB), foi a campeã, com R$3,06 milhões do total de R$5,4 milhões em emendas; Maria do Rosário (PT) conseguiu R$642,5 mil de um total de R$3,1 milhões; e Luciana Genro (PSOL), R$400 mil de um total de R$6,7 milhões pedidos.

Quando mais de um aliado disputa a mesma prefeitura, a opção do governo foi não criar problemas na base. Sérgio Carneiro (PDT), candidato em Feira de Santana (BA), garantiu o empenho de R$787,5 mil. Colbert Martins (PMDB), seu concorrente, teve R$1,3 milhão.

Alguns aliados tiveram, como Crivella, liberações no última dia. É o caso do deputado Carlos Eduardo Cadoca, candidato do PSC à prefeitura de Recife: tinha R$1,6 milhão em emenda individual e empenhou R$1,1 milhão. A senadora Patrícia Saboya, candidata do PDT em Fortaleza, só obteve R$200 mil, de um total de R$6,9 milhões em emendas. Ela concorre com a atual prefeita, Luizianne Lins (PT). Até o tucano Luiz Carlos Hauly, candidato em Londrina (PR), garantiu R$1,17 milhão. O petista André Vargas, seu adversário, ganhou muito menos: R$200 mil.