Título: Juros sobem e prazo cai no financiamento da dívida pública
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 08/07/2008, Economia, p. 17

BRASÍLIA. A crise nos mercados financeiros no mês passado e a perspectiva de manutenção da política de juros altos pelo Banco Central (BC) levaram os investidores a exigirem ainda mais para negociar títulos da dívida pública brasileira. Dados da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) mostram que, para papéis prefixados com vencimento em 2010, a taxa de juros chegou em julho a 15,70% ao ano, contra 13,09% no início de abril e 14,26% em 19 de maio.

A mudança no cenário econômico também se reflete nos prazos do endividamento, que ficaram mais curtos em maio, segundo relatório divulgado ontem pelo Tesouro Nacional. Apresentados com atraso de quase 15 dias - em razão da greve dos funcionários do Tesouro -, os dados mostram que, no total da dívida, a participação dos títulos com vencimento em 12 meses subiu de 25,37% para 26,62%.

O prazo médio da dívida caiu de 41,65 meses para 41,17 meses. Para o economista Leonardo Miceli, da Tendências Consultoria, a perspectiva é de que o prazo caia mais e os juros cobrados pelos investidores, aumentem:

- Há um ambiente de incerteza e as pessoas evitam tomar títulos mais longos.

O aumento da Taxa Selic teve reflexos no endividamento interno, que subiu 1,71%, fazendo com que o débito em títulos do governo aumentasse de R$1,218 trilhão para R$1,239 trilhão. A participação dos papéis indexados à Selic aumentou de 35,34% em abril para 35,42%.

Mas a alta de juros pelo BC não trouxe alívio para as expectativas de inflação. A meta do governo para este ano deve ser estourada, segundo avaliação de parte do mercado. Pesquisa Focus, conduzida pelo BC e divulgada ontem, mostrou que as cinco instituições que mais acertam as previsões - conhecidas como Top 5 - já projetam que o IPCA ficará em 6,60% este ano, acima do teto de 6,5% da meta, que é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento mostram que, na primeira semana de julho, o Brasil teve superávit comercial de US$305 milhões, com exportações de US$3,187 bilhões e importações de US$2,882 bilhões.

COLABORARAM Eliane Oliveira e Patricia Duarte