Título: EUA e Itália rechaçam versão ampliada do G-8
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 08/07/2008, Economia, p. 19

Americanos alegam que "não é o momento" de incluir no grupo Brasil, China, Índia, México e África do Sul.

RUSUTSU, Japão, e WASHINGTON. Apesar dos apelos do presidente da França, Nicolas Sarkozy, para que o G-8 - grupo dos sete países mais ricos e a Rússia - ganhe mais legitimidade incorporando o G-5 (formado por emergentes com grande população: China, Índia, Brasil, África do Sul e México), os EUA e a Itália se posicionaram contra a idéia ontem, no primeiro dia da reunião das nações mais desenvolvidas, no Japão.

Alegando que "não é o momento", o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional Americano, Gordon Johndroe, disse que os encontros do G-8 permitem a participação de outros importantes países e que, por isso, não haveria necessidade de mudar o seu formato. Já o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, afirmou que a vantagem do G-8 é o fato de "não ter um número excessivo de presenças, o que permite falar de modo franco e direto".

Pesquisa em 16 países: 63% apóiam ampliação

Berlusconi sugeriu, porém, que uma reunião entre o G-8 e o G-5 seja feita após cada encontro anual do grupo dos mais ricos do mundo. Para ele, "é justo fazer reuniões regulares ampliadas com esses cinco países". Na opinião de Sarkozy, o G-8 perdeu relevância ao não incluir no grupo atual - com poder formal e real de influência nas decisões, não só como espectadores - os países que mais crescem hoje e respondem por dois terços da população global. Segundo Sarkozy, o grupo deveria ser ampliado também para participar no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.

Uma pesquisa realizada com 76 autoridades e especialistas de 16 países pelo Brookings Institution, de Washington, mostra que, apesar das resistências na cúpula do G-8 no Japão, Sarkozy não está sozinho: 63% dos entrevistados são a favor de uma versão ampliada do G-8. A enquete revelou que só 15% acreditam que o G-8 cumpre a tarefa de ser "um guia global", informou a BBC Brasil em seu site.

- Os debates desse encontro do G-8 não podem se prolongar sem a discussão sobre que tipo de G-8 seria mais representativo hoje, com sua desejável ampliação - disse John Kirton, diretor do Grupo de Pesquisa do G-8 do Centro Munk de Estudos Internacionais da Universidade de Toronto, no Canadá.

Como já virou tradição nas reuniões do G-8 desde que os conflitos de rua no encontro de Gênova, em 2001, resultaram na morte do estudante italiano Carlo Giuliani, os líderes mundiais presentes a Toyako, no Japão, estão isolados. Ficam no hotel Windsor Toyako, às margens do lago Toya, sob a proteção de 21 mil seguranças. Mais que suficientes para conter os poucos protestos de ontem, que resultaram em pelo menos quatro presos. A dezenas de ativistas e jornalistas foi negado o visto de entrada no Japão. Com esse aparato, os protestos se limitam à maior cidade da ilha de Hokkaido, Sapporo (a cem quilômetros de Toyako), onde grupos de 300 pessoas protestam contra a globalização, o preço do petróleo e os biocombustíveis.

(*) Com agências internacionais