Título: Oposição quer citar Yeda em relatório alternativo
Autor: Ogliari, Elder e Hahn, Sandra
Fonte: O Globo, 18/06/2008, Nacional, p. A9

Texto seria votado em separado na CPI e enviado ao Ministério Público.

, PORTO ALEGRE

A CPI do Detran poderá ter dois relatórios ao fim de seus trabalhos, no dia 3 de julho. A oposição está convicta de que o relator Adilson Troca (PSDB) não vai citar secretários nem a governadora Yeda Crusius (PSDB) nas suas conclusões e começa a se mobilizar, nos bastidores, para produzir um texto a ser votado em separado para encaminhar ao Ministério Público.

Desde fevereiro, quando começaram os trabalhos, os deputados da oposição tentam detectar se o governo conhecia e encobriu uma fraude de R$ 44 milhões praticada contra o Detran por empresas que superfaturavam os serviços, entre as quais algumas de aliados políticos do Palácio Piratini. Os deputados da base política do governo preferem apontar os erros ocorridos e produzir uma série de recomendações para que não sejam repetidos. A audição de gravações feitas pela Polícia Federal à época da investigação deu munição à oposição ao revelar que dois dos principais envolvidos na fraude tentavam saber da governadora se o então diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Delson Martini, poderia orientar a resolução de um impasse entre os participantes do esquema.

O presidente da comissão, Fabiano Pereira (PT), diz que é preciso esperar o trabalho do relator, mas deixa transparecer que o texto deve evidenciar tudo o que foi apurado na CPI, apontando não só as 40 pessoas que já respondem a processo na Justiça como também as que tinham responsabilidade política e administrativa e participaram ou se beneficiaram do esquema.

¿Se o relatório não mostrar que pessoas como a governadora e Delson Martini não tomaram atitudes diante da fraude, teremos de deixar isso claro de outra forma¿, afirma o deputado Elvino Bohn Gass (PT), para quem o que já foi apurado mostra um ¿profundo comprometimento¿ do governo.

O relator promete citar todos os 40 réus do processo aberto pela Justiça Federal, mas adianta que não vai atender ao desejo da oposição. ¿Se eu tivesse indicativos de envolvimento do secretário e da governadora, eu o faria¿, afirma, destacando que Martini e Yeda não foram acusados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Para Troca, a pressão da oposição pode ser qualificada somente de ¿disputa política¿.

EQUIPE

Yeda confirmou ontem dois nomes para recompor seu secretariado e fez uma homenagem aos que caíram desde o dia 6, quando sua administração entrou em crise. ¿Quero dedicar este momento aos que tombaram¿, afirmou.

A governadora confirmou o prefeito de Santa Cruz do Sul, José Alberto Wenzel (PSDB), para a chefia da Casa Civil. Wenzel informou que vai renunciar à prefeitura e a uma possível candidatura à reeleição para assumir a pasta. Ele substituirá Cezar Busatto (PPS), cuja conversa gravada com o vice-governador Paulo Afonso Feijó (DEM) agravou a crise. Nela, Busatto abordava o financiamento de campanhas com uso de estatais. A governadora também anunciou a procuradora Mercedes Rodrigues para a secretaria-geral de Governo, que ficou vaga com a saída de Delson Martini.

TCE

Os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado aprovaram a abertura de procedimento prévio para investigar a conduta do presidente do órgão, João Luiz Vargas, citado em escutas da Polícia Federal na investigação das fraudes no Detran. Vargas terá 15 dias para prestar esclarecimentos aos colegas de TCE. Depois disso, o relator poderá propor ou não a abertura de um processo disciplinar contra ele.