Título: Paulinho depõe no Conselho de Ética, sem aperto
Autor: Lima , Maria
Fonte: O Globo, 09/07/2008, O Pais, p. 8

Deputado pedetista negou acusações de desvio no BNDES, foi irônico com relator e grosseiro com deputada

Maria Lima

BRASÍLIA. O depoimento do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, no Conselho de Ética ontem durou menos de duas horas e pouco incomodou o pedetista. Num plenário lotado de aliados e amigos, ele negou as acusações de envolvimento na quadrilha de desvios de recursos do BNDES e se livrou de questionamentos sobre os dados do inquérito sigiloso enviado pelo Supremo Tribunal Federal. O relator Paulo Piau (PMDB-MG) fez perguntas protocolares e foi criticado por aceitar passivamente as negativas de Paulinho, sem confrontá-lo com os dados do inquérito.

Paulinho não foi confrontado, por exemplo, com dados do inquérito que incluem seu nome entre os beneficiários de divisão de propina pela aprovação do empréstimo para a prefeitura de Praia Grande (SP). Segundo a planilha descrita no relatório da PF e no inquérito do STF, de um total previsto de R$2,6 milhões, R$1 milhão seriam repartidos entre Paulinho, o advogado Ricardo Tosto e outros integrantes da quadrilha.

O relator se limitou a fazer perguntas soltas sobre se o deputado conhecia os integrantes da quadrilha, ou se tinha recebido cheques repassados por eles, sem falar sobre sua relação com os envolvidos, e os fatos apurados pela Polícia Federal.

- O deputado Paulinho não foi confrontado com nada. O depoimento ficou prejudicado e os fatos não foram esclarecidos. Mesmo com o sigilo, o relator deveria fazer perguntas e questioná-lo com os dados de que dispunha, sem mencionar o inquérito sigiloso. O depoente se impôs. Falou apenas o que quis. Desse jeito, vai negar sempre - disse o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), que sequer teve tempo de inquirir Paulinho, porque o depoimento foi suspenso devido ao início das votações no plenário da Câmara.

Ironia sobre destaque da imprensa ao escândalo

Recebido com tapinhas nas costas por aliados, muito à vontade e às vezes até bocejando de tédio, o pedetista foi irônico com o relator, e grosseiro com a deputada Luciana Genro(RS), líder do PSOL, autor da representação no Conselho. Na sua primeira pergunta, Paulo Piau quis saber o que Paulinho achava do fato de a imprensa dar tanto destaque para o escândalo e seu envolvimento no caso.

- O senhor sabe que eu também não sei? Nem sou tão famoso assim. Tem alguns mais famosos do que eu por aí... - ironizou Paulinho.