Título: Renúncia? Sim, ao inalcançável
Autor: Feuerwerker, Alon
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2009, Política, p. 04

Em 2010, o PT está disposto a abrir mão do que muito provavelmente já não conseguiria nas urnas

No debate interno sobre a eleição do ano que vem, o Partido dos Trabalhadores caminha para consolidar uma tática voltada para eleger o presidente da República e ampliar as bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Na equação petista, os estados entram como moeda de troca. A não ser, naturalmente, os governados pelo PT ou em que a candidatura da legenda de Luiz Inácio Lula da Silva seja antecipadamente favorita.

É uma tática lógica. A sigla trabalha para consolidar o poder central. Manter o Palácio do Planalto e dar ao sucessor de Lula melhores condições de implementar o projeto partidário. A meta é depender menos de alianças congressuais, que hoje funcionam como freio ao PT. A expansão regional ficaria para uma etapa seguinte, e seria facilitada pela solidez da implantação em Brasília.

Além de lógica, a tática tem também suas conveniências. Em termos práticos, renuncia-se a algo que muito provavelmente não se conquistaria. Ou seja, o PT está ¿abrindo mão¿ de um protagonismo regional hoje inalcançável nas urnas. E acenará aos militantes com o argumento de que é melhor as seções locais do partido se alojarem em governos de aliados, com apoio do governo federal, do que se lançarem em projetos inviáveis.

Fala-se, por exemplo, de o PT apoiar o PMDB no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Dois lugares em que o triunfo petista é menos provável do que a derrota, na avaliação fria de dirigentes. O mesmo quadro se desenha no Rio Grande do Sul.

Com o desastre político do governo de Yeda Crusius (PSDB), normal seria o PT gaúcho reforçar sua posição histórica de protagonista, de alternativa de poder. Mas o movimento em Brasília é no sentido de enfraquecer a pré-candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro, e conduzir o partido à aliança com o PMDB do prefeito José Fogaça. Uma mensagem pública de altruísmo, porém baseada na avaliação fria de que, apesar da derrocada tucana, é pouco provável o Rio Grande do Sul retornar aos braços do PT em 2010.

Há dificuldades na implantação da tática. Uma é o medo dos candidatos a deputado e senador de saírem na tempestade sem o guarda-chuva de uma sólida candidatura majoritária estadual. Outra é o temor de as seções regionais e de as correntes partidárias serem digeridas nos processos políticos locais. Os candidatos a governador costumam ter forte influência na alavancagem das chapas para a Câmara dos Deputados e assembleias legislativas. No espaço aberto por esses receios movimentam-se, entre outras, as postulações de Lindberg Farias (RJ), de Patrus Ananias (MG), de Fernando Pimentel (MG) e do próprio Tarso.

O debate deve ser quente. O movimento mais recente em Brasília pretende juntar todas as tendências centristas do PT numa única chapa nas próximas eleições internas, o que nos cálculos dos articuladores da proposta daria hoje cerca de 70% da sigla. Ficariam fora, além de pequenos grupos mais à esquerda, a Articulação de Esquerda e a Mensagem ao Partido, de Tarso. Com a força política resultante dessa convergência, a nova direção partidária teria os meios para implantar regionalmente seu aliancismo.

Trata-se, na prática, de um movimento contra a divisão do PT em tendências. O PT nasceu nos anos 80 como um partido de grupos, diferente dos similares da esquerda tradicional. Naquele momento, as correntes internas representavam uma força propulsora, pois a exigência prévia de unidade política e ideológica certamente teria tolhido o crescimento partidário. Mas agora a estrutura de tendências talvez tenha se tornado um entrave à sigla que controla o poder federal. O raciocínio: se cada tendência coloca seu projeto eleitoral em primeiro plano, quem vai cuidar do projeto do PT, que é continuar no Palácio do Planalto?

Jogo bruto O caso dos cartões corporativos é o exemplo sempre lembrado entre governistas quando se trata de definir como será conduzida a CPI da Petrobras. Na avaliação do oficialismo, quanto mais agressiva for a atitude contra a oposição menor a chance de surpresas. Uma arma útil agora, acreditam, serão os contratos entre a Petrobras e empresas ligadas a senadores do PSDB e do Democratas. Outro vetor são os financiadores de campanhas eleitorais. O governo conta com eles para refrear o ímpeto investigativo da oposição.