Título: EUA oficializam a IV Frota em meio a temores
Autor: Oliveira, Eliane; Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/07/2008, O Mundo, p. 34

Ressurgimento é tratado com cuidado por Washington, que enfatiza objetivo de cooperação

Eliane Oliveira e José Meirelles Passos*

BRASÍLIA e JACKSONVILLE, Flórida. A reativação da IV Frota Naval dos Estados Unidos, anunciada em fins de junho, despertando suspeitas na América Latina de uma maior e incômoda presença militar americana na região - que será a sua área especifica de operações - será efetivada hoje numa cerimonia na Base Naval Mayport, na qual também será empossado o seu comandante, o contra-almirante Joseph D. Kernan.

Há uma clara preocupação do governo americano em acentuar que dar nova vida à uma força-tarefa que tinha sido desmantelada 58 anos atrás, no fim da Segunda Guerra Mundial, tem muito mais a ver com o desejo dos EUA de oferecer assistência humanitária, ajudar em desastres naturais e participar de operações antidrogas do que de se tornar uma presença intimidadora.

- É uma frota de colaboração. Não entraremos em nenhum território. A sua maior embarcação é um navio-hospital - disse o secretário de Estado-Assistente para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon.

Um detalhe, porém, reforça o temor latino-americano. Trata-se do fato de ter sido escolhido como comandante da frota um militar que até ontem chefiava o Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval. Tal preocupação é reforçada por um outro fato: o de que Kernan fez carreira no grupo Seal - força especial de elite da Marinha - com homens especializados em operações clandestinas. Nessa função, esse contra-almirante participou, por exemplo, de missões de preparação das invasões do Afeganistão e do Iraque.

Na tentativa de destacar que a IV Frota renasce sob outro perfil, o almirante James Stavridis, chefe do Comando Sul, disse que, diferentemente das demais frotas, não haverá navios permanentemente alocados a essa que se encarregará da América Latina. Isso, no entanto, significa que o seu comandante poderá dispor de quantas embarcações e armas achar necessários, no momento que achar propício.

Tema virou pauta de encontro entre Lula e Bush

O ressurgimento da IV Frota preocupa o governo brasileiro, a despeito dos esclarecimentos que têm sido dados por autoridades americanas. No Ministério da Defesa, o ministro Nelson Jobim tem comentado a interlocutores que a forma como a notícia saiu foi um "grande equívoco" político, o que acabou provocando protestos e desconfiança de diversos países sul-americanos, entre os quais Brasil e Venezuela.

O tema, segundo fontes da área diplomática, entrou na pauta do encontro dos presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira, no Japão. Lula, aliás, ao saber da reativação da IV Frota, chegou a determinar ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que pedisse explicações à secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. O resultado da conversa ainda é desconhecido.