Título: Quem tem medo do disco rígido?
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 10/07/2008, Economia, p. 21

Políticos temem conteúdo de computadores apreendidos no Opportunity

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Há forte clima de apreensão no Congresso com as informações, ainda não divulgadas, do disco rígido (HD) de um computador do Opportunity apreendido pela Polícia Federal em 2004, na Operação Chacal, quando se investigava o caso Kroll, de espionagem de membros do governo. Elas só foram analisadas agora, após autorização judicial. De forma reservada, integrantes de PT, PSDB e DEM temem que o HD contenha informações sobre aplicações e remessas ao exterior de investidores do grupo Opportunity e até sobre doações para campanha de políticos próximos ao banqueiro Daniel Dantas.

- Assim que essas informações forem divulgadas, muita coisa será esclarecida. Por isso, esse clima de nervosismo, tensão e ansiedade no Congresso - disse a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).

Essa relação com políticos deu a Dantas grande influência no Congresso. Antes de ser preso, ele ameaçou até o Planalto.

A apreensão era tamanha que, na CPI dos Correios, um grupo de parlamentares, de vários matizes ideológicos, tentou impedir a análise do HD. Este fora apreendido na investigação do esquema de espionagem de membros do governo pela Kroll, contratada pelo grupo de Dantas na Brasil Telecom (BrT) entre 2000 e 2005. Mas ele conseguiu, na Justiça, manter as informações sob sigilo.

Pressionados com o episódio do mensalão, integrantes da base governista tentaram envolver a oposição no escândalo. Dantas sempre teve forte ligação com integrantes do DEM e do PSDB - ele obteve apoio político para participar da privatização das teles no governo FHC. O banqueiro acabou citado como pagador e beneficiário do esquema do mensalão, de Marcos Valério. E-mails de Dantas para o Citigroup relataram encontros com o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, e do advogado Luiz Octávio da Motta Veiga, aliado de Dantas, com Lula, para tratar da BrT.

Outro fator de desconforto no Planalto foi a aproximação da BrT com a Gamecorp, empresa da qual Fábio Luís Lula da Silva, filho de Lula, é sócio. O presidente vetou a parceria.