Título: Fundos do Opportunity podem perder até R$500 milhões com ação da PF
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 10/07/2008, Economia, p. 22

Em 2004, diante das primeiras denúncias, impacto foi de R$1 bilhão

Juliana Rangel

Com as denúncias que resultaram na prisão dos principais executivos do Opportunity na terça-feira, funcionários do banco já estimam que os fundos da instituição poderão perder até 2,5% de seu patrimônio líquido nos próximos dias, ou R$475 milhões. Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), o Opportunity ocupa a 15º posição no ranking de gestores de recursos do país, com ativos de R$19,3 bilhões. E está em 20º no ranking global. No primeiro dia do escândalo, a perda com saques foi de 1,5% do patrimônio, quantia considerada baixa pelo mercado.

Em 2004, quando estouraram os primeiros escândalos financeiros envolvendo Daniel Dantas - um dos principais sócios do grupo -, os fundos perderam R$1 bilhão em 12 meses.

Entre acusações que pesam contra Dantas e o investidor Naji Nahas, processado por quebrar a Bolsa do Rio em 1989, está a manipulação do mercado. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o segmento no Brasil, informou que está trocando informações com o Ministério Público Federal para tomar providências. A Procuradoria não detalhou de que forma ocorreram as manipulações.

Muito se comenta no mercado sobre uso de informação privilegiada, chegada por meio de lobistas que atuam junto ao governo. Em outubro de 2007, por exemplo, as ações da Petrobras representavam 2,8% da carteira do Lógica II, principal fundo do Opportunity, com R$2,8 bilhões em ativos.

- Quando a empresa anunciou a megadescoberta de Tupi, em novembro, todos sabiam que eles estavam abarrotados de Petrobras na carteira - lembra um analista.

Naquele mês, o peso das ações da Petrobras no patrimônio do Lógica chegou a 21,12%, segundo a CVM. Mas, pelo relatório, não é possível saber em que dia as compras foram feitas, se antes ou depois do anúncio da descoberta.

Criada em 1994, a parceria entre Dantas e o atual presidente do Opportunity, Dório Ferman, dono do então banco Lógica, foi bem-sucedida. Juntos, eles criaram o Opportunity Asset Management, que atuava em fundos offshore (com base fora do país). Amarrado a um acordo com o Icatu, ao sair do banco, Dantas não poderia gerir fundos locais, e o Icatu não teria fundos no exterior por dois anos.

Fundos podiam encobrir remessas via anexo IV

Até 1995, o principal negócio de Ferman e Dantas foi um fundo offshore (Opportunity Fund), com sede em Cayman. Anos antes, para liberalizar investimentos estrangeiros no país, no governo Collor de Melo, o Conselho Monetário Nacional havia regulamentado os anexos IV e V da resolução que deliberava sobre esses investimentos. O anexo IV era sobre aplicações em ações. O outro, sobre renda fixa.

Pelo anexo IV, investidores poderiam aplicar nas bolsas do Brasil sem pagar Imposto de Renda, desde que não residissem no país. E teriam sua identidade preservada.

Em 1999, após uma sociedade de 14 meses no banco, o empresário Luís Roberto Demarco brigou com Dantas e denunciou que o Opportunity Fund era usado para trazer ao país recursos que brasileiros tinham no exterior, sem pagar impostos. Estimava-se que um quarto do dinheiro dos fundos offshore era de brasileiros.

COLABOROU Liana Melo