Título: Na Câmara, ninguém sabe, ninguém viu
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 10/07/2008, Economia, p. 26

Acusações a parlamentares estão paradas

BRASÍLIA. Desde que surgiram acusações, em novembro de 2007, de que o empresário Naji Nahas teria sido o operador de um propinoduto para autoridades e deputados federais a mando da Telecom Italia, a Câmara não tomou providências. Provocadas pela Comissão de Ciência e Tecnologia, as autoridades competentes simplesmente sumiram com o processo interno que tinha como objetivo pedir à Justiça italiana acesso a documentos.

A Corregedoria da Casa recebeu uma cópia e guardou em arquivo morto. A Procuradoria interna sequer consegue localizar os papéis.

Na época, a imprensa italiana noticiou com alarde a confissão de Giuliano Tavaroli, ex-executivo da Telecom Italia. Ele detalhou o suposto esquema de corrupção no Brasil, envolvendo cerca de 25 milhões entre 2002 e 2003. Nahas já declarara ter recebido R$3,25 milhões da Telecom Italia por consultoria.

Em 8 de novembro, deputados cobraram providências do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que encaminhou o assunto à Secretaria Geral da Mesa. No dia seguinte, o caso estava com o deputado Alexandre Santos (PMDB-RJ), procurador da Câmara. E ali ficou, segundo assessores. O processo não existia no sistema interno da Procuradoria e não foi localizado ontem.

Após explicações conflitantes, a Procuradoria disse existir um parecer que recomendava ao presidente da Câmara buscar dados na Itália por meio do Ministério de Relações Exteriores - mas não conseguiu confirmar se o pedido foi para Chinaglia.

A informação foi obtida por meio de cópia do processo que estava no arquivo da Corregedoria, órgão ao qual a Secretaria da Mesa enviou ofício. Segundo a assessoria, uma cópia foi enviada, mas não exigia a tomada de providências sobre acusações de corrupção.

Agora, deputados que buscam esclarecimentos vão contar com o poder "policial" da CPI dos Grampos, que analisará requerimento no qual solicita do governo informações sobre o suposto propinoduto de Nahas nas investigações em território nacional e até mandar ofício à Justiça italiana, por meio de carta rogatória. (Leila Suwwan)