Título: Cotistas de fundo do Opportunity podem ser indiciados por crime
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 10/07/2008, Economia, p. 26

PF indica que 200 pessoas investiram ilegalmente por meio do banco Ricardo Galhardo

SÃO PAULO. Os cerca de 200 investidores brasileiros que aplicaram no Opportunity Fund são o próximo alvo da Operação Satiagraha. Segundo fontes no Ministério Público Federal, eles podem ser indiciados por evasão de divisas e sonegação fiscal. O Opportunity Fund, com sede no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, é um fundo de investimento mútuo voltado exclusivamente a estrangeiros. Residentes no Brasil são proibidos de investir no fundo porque as aplicações são isentas de Imposto de Renda.

A Polícia Federal (PF) descobriu que as duas centenas de residentes no país investiram em algum dos 35 subfundos do Opportunity Fund.

- Nenhum deles declarou o investimento à Receita Federal - disse um dos responsáveis pela operação.

A presença de brasileiros já fora noticiada pelo GLOBO em agosto de 2000. A reportagem citava o caso de Luis Roberto Demarco, ex-sócio de Daniel Dantas, e de um investidor que confirmou a aplicação, mas pediu para não ser identificado.

A lista é guardada a sete chaves e, segundo fontes da PF, inclui políticos, artistas, atletas e outras celebridades.

Segundo relatórios da PF, a descoberta aconteceu quase por acaso. "Em relação ao Opportunity Fund, os exames mostram que o Banco Opportunity mantinha o controle dos clientes com utilização de CPF e CNPJ, documentos essencialmente brasileiros", diz o laudo de exame financeiro 1773/2008.

A presença ilegal levou o grupo de Dantas a se vincular ao quadro supostamente comandado pelo megainvestidor Naji Nahas. Segundo a PF, como a aplicação era ilegal, os investidores se valiam da rede de doleiros comandada por Nahas para repatriar o dinheiro.

A existência de dois grupos distintos, um liderado por Dantas e outro por Nahas, deve levar ao desmembramento da investigação em duas ou mais ações criminais. O exame do material coletado anteontem também pode fazer com que parte do inquérito seja enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que alguns políticos que aparecem em telefonemas interceptados têm direito a foro especial.

Segundo os responsáveis pela operação, ainda não há indícios que justifiquem a investigação de parlamentares e outros ocupantes de cargo eletivo.