Título: Reunião do G-8 acaba sem consenso
Autor: Scofield Jr, Gilberto
Fonte: O Globo, 10/07/2008, Economia, p. 27
Para Lula, combate a crise de alimentos depende de diagnóstico comum
Gilberto Scofield Jr.*
TOYAKO, Japão. As discussões sobre economia global na reunião do G-8 (EUA, Japão, Alemanha, Itália, Grã Bretanha, França, Canadá e Rússia) com seus convidados do G-5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) e entre o chamado Encontro das Grandes Economias (que incluiu os 13 países acima, mais Austrália, Coréia do Sul e Indonésia) terminaram ontem na ilha de Hokkaido, no Japão, com um oceano de discordâncias sobre as três maiores ameaças ao planeta hoje, além das mudanças climáticas: a crise de alimentos, o elevado custo da energia e a conseqüente alta da inflação mundial.
O G-8 voltou a alertar os países para a ameaça da disparada nas cotações das commodities, um ponto com o qual todos parecem concordar. Mas não houve consenso sobre as razões para a alta dos preços dos alimentos, matérias-primas e energia. Baixos investimentos em agricultura? Maior consumo mundial? Desvalorização do dólar? Falta de estoques? Especulação financeira?
Tampouco houve consenso sobre a melhor forma de combater os problemas. A própria discussão sobre o processo decisório, concentrado nos países do G-8 e sem levar em conta as maiores economias emergentes do planeta, não avançou um milímetro. O G-8 continuará, por ora, a ser um clube de ricos.
Talvez por isso o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tenha sugerido ontem que a melhor forma de enfrentar a crise dos alimentos e do petróleo é descobrir, primeiro, um diagnóstico aceito por todos.
- Os mais precipitados gostam de culpar os biocombustíveis, sem separar o etanol feito da cana-de-açúcar no Brasil do combustível feito de milho nos EUA. E o fato é que temos 90% da nossa frota de carros novos movidos a motores flex e, ao mesmo tempo, a desnutrição no Nordeste foi reduzida em 79% nos últimos anos. Na verdade, não vejo a alta no preço dos alimentos como um problema, mas como oportunidade, porque vários países cresceram muito. Então precisamos é produzir mais - disse ele.
Brasil e Reino Unido fazem apelo por Doha
Os ricos prometeram ajuda financeira para investimentos em agricultura e infra-estrutura nos países pobres e em desenvolvimento, sem que um só centavo tenha sido deslocado para tal. Apesar das pressões dos emergentes por medidas para frear a especulação nos mercados futuros de commodities - o que estaria influenciando os preços atuais dos alimentos, na opinião de muitos países, Brasil à frente -, os ricos prometeram apenas que vão estudar o tema.
- Aqueles que perderam dinheiro com a crise das hipotecas dos EUA agora querem ganhar dinheiro com alimentos e petróleo em mercados futuros. Um preço do barril de petróleo acima de US$140 é inconcebível - disse Lula.
Declarações dos chefes de Estado das nações ricas primaram pelo caráter vago.
- Nós encaramos uma séria pressão sobre o padrão de vida das pessoas - disse o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.
- O mundo enfrenta uma crise grave - fez coro o premiê do Japão, Yasuo Fukuda.
As discussões para destravar a Rodada Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), não avançaram. Houve só uma declaração conjunta de Lula e Brown pedindo que, "em tempos de altos preços dos alimentos", os mercados devem se abrir "para aumentar trocas comerciais." Haverá uma reunião sobre Doha este mês em Genebra.
(*) Com agências internacionais