Título: PT e PSDB misturam suas bandeiras em Minas
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 11/07/2008, O País, p. 5

Em evento com presença de "pelicanos", Aécio e Pimentel reforçam aliança que apóia o candidato Márcio Lacerda (PSB)

Maiá Menezes

BELO HORIZONTE. Tucanos, petistas, pelicanos - como está sendo chamada a nova "espécie" originada pela aproximação dos militantes das duas siglas - e integrantes de outros 13 partidos lotaram ontem o Teatro Sesi, no bairro de Santa Efigênia, na capital mineira, no gesto até agora mais simbólico da aproximação entre PSDB e PT em Minas Gerais. A união informal em torno do ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico Márcio Lacerda (PSB), candidato à sucessão municipal em Belo Horizonte, levou ao palco o tucano Aécio Neves, governador de Minas Gerais, e o petista Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, e, à platéia, cerca de 800 bandeiras vermelhas do PT e amarelas do PSDB, em combinação inusitada. As direções nacionais dos dois partidos reprovaram a aliança, que tem a bênção do presidente Lula.

Ninho dos "pelicanos", Minas foi também o berço do símbolo do PSDB: em abril de 1988, a representação mineira sugeriu o tucano como a marca do partido.

- No momento de uma política nacional tão conflagrada, os mineiros, responsáveis por terem escrito as mais belas páginas da história política deste país, sinalizam que o Brasil não pode perder a perspectiva de construção de alianças que engrandecem a população. Quero agradecer ao meu partido, por não ter caído na armadilha do confronto - disse Aécio ao discursar para os militantes.

"Só fomos prejudicados por não ter o tempo do PSDB"

Aécio, em entrevista, considerou superado o episódio do veto do PT nacional à aliança:

- Isso é passado.

Pimentel classificou o ato político como "o mais importante destas eleições":

- Mostramos ao Brasil inteiro que é possível encontrar um caminho político de convergência, deixando de lado o sectarismo, o partidarismo rasteiro, os interesses pessoais.

O presidente do PT municipal, Aluisio Marco, rejeita o teor informal da aliança. Segundo ele, o apoio do PSDB na eleição municipal tem caráter oficial.

- O apoio é formal. Só fomos prejudicados por não ter o tempo do PSDB - disse o presidente do partido, calculando em 24 minutos o tempo no horário eleitoral gratuito.

Durante o encontro, os militantes compuseram um cenário que será usado nos programas de TV da coligação. O locutor fazia as vezes de diretor:

- Vamos misturar as bandeiras. Todo mundo junto e misturado.

Os caminhos que se cruzam agora na capital mineira se originam de uma conjuntura local: a amizade e a aliança política entre prefeito e governador. Mas, se tornaram emblema de uma aproximação nacional que já pareceu improvável. De um lado, o PT, criado em 10 de fevereiro de 1980, com a ambição de ser o primeiro partido integrado pela classe dos trabalhadores, liderado por Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. De outro, o PSDB, nascido oito anos depois, em 25 de junho de 1988, de uma dissidência do PMDB e do PFL, de olho no "pulsar das ruas" e capitaneado por nomes como Fernando Henrique Cardoso, Mario Covas, André Franco Montoro, o mineiro Pimenta da Veiga e Afonso Arinos.

Diante da perspectiva de 2010, primeira eleição sob regime democrático sem Lula no páreo, e da realidade econômica, construída por uma política petista fiel aos mandamentos ortodoxos do PSDB, os dois partidos não andam mais tão distantes. A aproximação, alinhavada em Minas, pode ter desdobramentos nacionais, segundo Aécio:

- Todos os senhores participam de um momento histórico que, acredito, haverá de refletir-se fora do território de Minas.