Título: NY: provas secretas contra o governo
Autor: Batista, Henrique Gomes ; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/07/2008, Economia, p. 25

Documentos que sustentam ameaça de Dantas ao Planalto são inéditos

Leila Suwwan

BRASÍLIA e NOVA YORK. As ameaças de Daniel Dantas de entregar o PT e o Planalto, o que envolveria diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estão fundamentadas numa quantidade imensa de documentos que surgiram em dois processos movidos na briga societária pela Brasil Telecom (BrT) na Justiça de Nova York em 2006. A documentação é sigilosa e permanece inédita. E, apesar dos sinais de tranqüilidade do governo federal ante a intimidação, a papelada, ou parte dela, jamais chegou a seu conhecimento.

O conjunto de "provas" vai desde material secreto da empresa de investigação Kroll, contratada pelo grupo ligado a Dantas, até correspondências internas do Citigroup, que se aliou aos fundos de pensão, com apoio do governo, para remover o banqueiro do controle da BrT.

Dantas e seus advogados tiveram acesso a correspondências internas do Citigroup, que acusam a interferência direta de Lula e relatam o "ódio" do governo ao banqueiro. A partir desses documentos, os advogados argumentaram que o Citigroup sofreu pressões diretas do Planalto e precisava ter em mente os interesses mais amplos do banco no Brasil, que poderiam ser prejudicados se o caso BrT não fosse conduzido segundo a vontade do governo.

Supostos encontros de Lula com executivos do Citigroup

As correspondências não foram reveladas, mas foram citadas em audiências na Justiça. Os advogados de Dantas afirmaram que o então executivo do Citigroup Gustavo Marin relatou, após um encontro com Lula, que "o governo do Brasil odeia Daniel Dantas". Em outro momento, argumentaram que as ligações e contatos do Citibank com o Planalto demonstram que estavam "perseguindo interesses mais amplos" que os da BrT.

Essas falas fazem suposta referência a um encontro de Lula com executivos do Citi em viagem a Nova York em 23 de junho de 2004. Além disso, fariam referência a reuniões no primeiro semestre de 2003, quando representantes de Citi e Opportunity - à época unidos - se encontraram com o então ministro José Dirceu (Casa Civil) e o então presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Hoje, sabe-se que Dantas tentou se aproximar do Planalto pelos advogados Roberto Teixeira e Antonio Carlos de Almeida Castro.

Casseb é o único elo conhecido até o momento com o outro processo que tramitou em Nova York. Após o afastamento do grupo de Daniel Dantas da BrT, os gestores ligados ao Citi entraram com uma ação para exigir a entrega de toda a documentação levantada pela empresa Kroll no Brasil, EUA e Itália entre 2000 e 2005. Um dos itens sob disputa indicava o "monitoramento" de Casseb e é datado de maio de 2003.

Apesar de ter contrato com a BrT, a Kroll resistiu o quanto pôde a repassar os arquivos aos novos gestores, uma ordem deixada por Carla Cicco, do grupo de Dantas e afastada. O material, mais de dois mil itens reunidos em 21 caixas e ao preço total de US$10 milhões, foi entregue. Mas a Kroll, alegando segredo industrial, conseguiu manter a guarda de tudo que dizia respeito a seu modo de operar.

O processo, que está na Corte distrital sul de Manhattan, tem mais de seis caixas de documentos e de transcrição de depoimentos, mas a maioria deste material não está acessível ao público porque foi feito um acordo de sigilo entre as partes. Em meio a este material, há pelo menos uma carta, protocolada sob o número 315, na qual se faz menção a um pedido de propina. A ação judicial foi movida pelo Citi contra o Opportunity, a quem acusa de conduta profissional indevida e pede US$300 milhões em indenização.

COLABOROU Marília Martins (correspondente)