Título: Inflação: o pior primeiro semestre desde 2003
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 11/07/2008, Economia, p. 27

IPCA sobe 0,74% em junho com pressão de alimentos. Em 12 meses, índice se aproxima do teto da meta

Fabiana Ribeiro

Os alimentos, mais uma vez, foram os vilões da inflação em junho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo IBGE, apresentou variação de 0,74%, pouco abaixo do que se viu em maio (0,79%). Com isso, o índice acumula, no ano, variação de 3,64%, o pior primeiro semestre desde 2003 (6,64%). Nos últimos 12 meses, o IPCA subiu 6,06%, a maior taxa desde novembro de 2005. A inflação em 12 meses está cada vez mais próxima do teto da meta de inflação fixada pelo Banco Central, de 6,5%. O que leva muitos economistas a não descartarem que a inflação de 2008 feche acima da meta.

- É possível que a inflação supere o teto da meta em julho - disse Irene Machado, economista do IBGE.

Em julho, tarifas devem pressionar inflação

Os alimentos explicam 63% do resultado do IPCA de junho. No mês passado, a alta do grupo foi de 2,11%, acima da variação registrada em maio, de 1,95%. Em 12 meses, os alimentos já subiram 15,79%. Segundo o IBGE, a elevação dos preços foi generalizada, mas foi puxada, especialmente, pelo prato típico do brasileiro. O arroz ficou 9,90% mais caro em junho; e, no ano, 38,21%. Já o feijão preto encareceu 7,54%; e, no ano, 57,73%.

- As carnes, por sua vez, foram o item que mais contribuiu individualmente para a taxa de junho. No mês, os preços subiram 6,91%. Há falta de boi para abater, devido a muitos abates em 2006 e 2007. Além disso, houve aumento na exportação do produto - acrescentou Irene, do IBGE, citando duas desacelerações de preços: óleo de soja (-2,76%) e frutas (-1,96%).

Os produtos não-alimentícios, por sua vez, registraram aumento de 0,34% em junho, menor do que o de maio (0,46%). O grupo acumula, no ano, alta de 2,26%, contra 1,60% no primeiro semestre de 2007. Destacam-se entre as maiores variações dos não-alimentícios em junho o gás encanado (8,76%), o gás veicular (8,31%), as passagens aéreas (3,70%), os artigos de higiene pessoal (1,29%), os artigos de limpeza (1,33%) e o salário de empregado doméstico (1,04%).

Segundo Irene, o mês de julho pode vir a concentrar outras fontes de pressão para o consumidor brasileiro.

- Além de alimentos, os administrados podem pressionara a inflação em julho, com reajustes de energia elétrica, água e esgoto e ônibus interestadual em algumas regiões da apuração do IPCA.

Segundo Raphael Castro, economista da LCA Consultores, no mês que vem, deve haver uma maior dispersão da inflação, ou seja, mais itens subindo de preços, devido ao encarecimento de derivados de petróleo e aço. Sua projeção é de um IPCA de 0,55% em julho.

- As medidas de núcleo (índices que excluem da inflação variações atípicas de preços) também desaceleraram, o que, no entanto, não significa uma inversão de tendência: os preços não vão entrar em desaceleração - comentou Castro, ressaltando que alguns itens deram alívio ao consumidor em junho, como vestuário e serviços.

Crescimento da economia permite repasses, diz analista

Para o economista, a inflação no segundo semestre deve vir ainda mais forte, especialmente se houver reajuste na gasolina. Ele lembra ainda que o ritmo de crescimento da economia brasileira permite repasses de preços para o consumidor.

- Com isso, nossa expectativa é que 2008 encerre com uma inflação acima da meta, em 6,8% - afirmou.

Com o IPCA já sinalizando que vai superar o teto da meta de 2008, a agência de classificação de risco Austin Rating acredita que o Banco Central vai acelerar o ritmo de elevação da taxa de juros - dos atuais meio ponto percentual, como ocorreu nas duas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), para 0,75. Isso seria necessário para ancorar novamente as expectativas de inflação do mercado para 2009 em 4,5%, pois hoje estão em 4,91%

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