Título: BC diz que não será complacente
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 11/07/2008, Economia, p. 27

Meirelles quer trazer inflação de volta ao centro da meta já em 2009

Lino Rodrigues

SÃO PAULO. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, sinalizou ontem um novo aperto da política monetária para trazer os índices de inflação para o centro da meta (4,5%) já no próximo ano. O BC, garantiu Meirelles, vai atuar "tempestivamente" para não permitir que impactos localizados dos preços e salários levem a uma deterioração do combate à inflação.

- Não se espere deste banco uma atitude complacente quanto à inflação. Os formadores de opinião e de preços não devem ter dúvidas quanto à disposição da autoridade monetária de tomar decisões visando a promover a convergência da inflação para o centro da meta em 2009 - afirmou Meirelles, durante seminário sobre "O Impacto do Brasil na Economia Global", em São Paulo.

Paulo Bernardo prevê crescimento menor em 2009

Segundo Meirelles, as decisões recentes do Comitê de Política Monetária (Copom, que elevou por duas ocasiões a taxa de juros desde abril) terão continuidade ao longo dos próximos trimestres. Essa postura, disse, visa também a evitar que se "consolide um ambiente de pessimismo inflacionário, no qual a política monetária perderia eficiência".

Perguntado se a decisão de um aperto maior da política monetária não traria mais custos para o país, Meirelles afirmou que o BC vem tomando providências desde o início do ano para não permitir que "aumentos isolados" de preços de alimentos e commodities levem a uma deterioração das expectativas de inflação.

- Um combate à inflação feito na hora certa, tempestivamente, a história demonstra, inclusive no Brasil, que é o que produz melhores resultados com menor custo para a sociedade. Estamos no tempo e na hora - disse ele.

Também presente no evento, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, admitiu que o crescimento da economia em 2009 ficará abaixo do registrado este ano. Ele evitou fazer projeções, mas criticou analistas que estão prevendo uma alta entre 3% e 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) no ano que vem.

- O crescimento será menor em 2009, mas é cedo para dizer que será de 3% ou 3,5%, como já falam alguns analistas precipitadamente - disse.

Para este ano, Bernardo se disse otimista e afirmou que "há plenas condições" de o PIB crescer 5%. Apesar das projeções, ele ponderou que as ações para conter a inflação, como a elevação da meta de superávit fiscal primário (de 3,8% para 4,3% do PIB), a alta dos juros e as medidas para reduzir o aumento do crédito poderão afetar para baixo o resultado do PIB no final do ano.

Quanto à alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo IBGE, e que acumula variação de 6,06% em 12 meses, o ministro se disse preocupado, mas garantiu que o governo tem consciência da necessidade de "bater duro" na inflação. Segundo ele, a taxa acumulada ainda está dentro da margem de tolerância (de até 6,5%), sendo o Brasil um dos poucos países a conseguir isso.

- A inflação virou assunto novamente e o IPCA veio um tiquinho menor em junho do que em maio, mas, ainda assim, preocupante - afirmou, lembrando que o país está resistindo, mas é preciso apostar e fazer as coisas certas para poder resistir ainda mais.

Bernardo afirmou ainda que o governo pretende reduzir o ritmo de oferta de crédito no país. Em 2007, o volume cresceu 32%, chegando a 35% do PIB, nível considerado "explosivo" e que pode não se sustentar com taxas de inflação de 4%. O ideal, segundo o ministro, seria manter crescimento do crédito entre 10% e 12% para uma economia com expansão de 5%.