Título: Lugo já enfrenta crise sobre Itaipu
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 11/07/2008, O Mundo, p. 30
Carlo Mateo será o diretor paraguaio da usina, mas indicação causa divisões no futuro gabinete
Eliane Oliveira
ASSUNÇÃO e BRASÍLIA. O governo brasileiro acompanha com interesse a crise no Paraguai, causada pela nomeação, ontem, do ex-senador Carlo Mateo como diretor do lado paraguaio da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Fontes dos ministérios das Relações Exteriores e de Minas e Energia, no entanto, disseram que não há qualquer avaliação sobre qual seria o melhor nome para o Brasil. Segundo essas fontes, tanto Mateo quanto Ricardo Canese - especialista em recursos energéticos indicado pela futura chanceler do país vizinho, Milda Rivarola - agirão sob forte pressão ao negociar com autoridades brasileiras a revisão das tarifas da hidrelétrica binacional. A escolha de Mateo gerou uma crise no futuro gabinete de Lugo.
A orientação dada pelo Palácio do Planalto é que as negociações comecem após 15 de agosto, data em que o vencedor das eleições presidenciais paraguaias, Fernando Lugo, assumirá a Presidência do país. Nos bastidores, existe a possibilidade de as conversas terem início alguns dias antes, mas não há nada confirmado até agora. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarregou seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, de representar o Brasil nessa questão.
Admite-se, dentro do governo brasileiro, algum tipo de ajuste na remuneração recebida pelo Paraguai ao vender energia excedente para o Brasil, como já foi feito em ocasiões anteriores, embora ainda não exista consenso sobre o assunto. O tratado, porém, não sofrerá alterações. Por exemplo, a sobra de energia não pode ser vendida para outro país da região, como o Chile e a Argentina.
Até o momento, o Brasil estuda formas de compensar o Paraguai direta ou indiretamente. Uma delas consiste na construção de uma nova linha de transmissão que reforçará o transporte de energia de Foz do Iguaçu - onde fica a parte brasileira de Itaipu - até Assunção. O valor da obra é estimado em US$300 milhões e deverá ser financiado pelo BNDES ou pela Eletrobras.
Segundo cálculos do governo, nos últimos 20 anos, o Paraguai já recebeu US$4,5 bilhões, grande parte em royalties. O Brasil, por sua vez, ficou com US$3,6 bilhões.
Futura chanceler ameaça não assumir o cargo
Em entrevistas dadas ontem no Paraguai, Balmelli deixou claro que assumirá uma política enérgica de reivindicação perante o Brasil.
- Devemos buscar uma eqüidade na administração binacional e na possibilidade de vender a outros países a energia que nos pertence - disse Mateo, que é ex-vice-chanceler e ex-senador.
Fontes paraguaias disseram que a escolha de Mateo provocou uma crise dentro do futuro gabinete de Lugo. De acordo com as fontes, a futura ministra das Relações Exteriores chegou a ameaçar não assumir o cargo caso Mateo seja realmente confirmado no cargo. Milda é madrinha política de Ricardo Canese e apostava em sua nomeação.
O Paraguai consome menos de 10% da energia que lhe corresponde, sendo obrigado a vender seu excedente para o Brasil a preço de custo, como está previsto no tratado de Itaipu, assinado em 1973.
Fernando Lugo, prometeu durante sua campanha que revisaria o acordo e tentaria negociar preços mais justos, de mercado, não só com o Brasil, mas também com a Argentina, em relação à usina binacional de Yacyretá.
Com agências internacionais