Título: CPI do Grampo quer ouvir envolvidos
Autor:
Fonte: O Globo, 15/07/2008, Economia, p. 22
Requerimento será votado amanhã e inclui Dantas, Nahas e Greenhalgh.
BRASÍLIA. Apesar de um início de movimentação da base aliada para impedir que a CPI do Grampo entre nas investigações da Operação Satiagraha - sob argumento de que a Polícia Federal (PF) já está fazendo uma profunda apuração do caso -, o presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), avalia ter fundamentos sólidos para os requerimentos que serão votados amanhã, que incluem as convocações do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, do investidor Naji Nahas, do ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh e do ex-ministro Luiz Gushiken, que ocupou a Secretaria de Comunicação. Há convites ainda para ouvir o juiz da 6ª Vara Federal Fausto Martin de Sanctis e o delegado da PF Protógenes Queiroz, responsáveis pelo caso.
A CPI do Grampo pretende avaliar como as escutas clandestinas podem ter sido utilizadas pela suposta quadrilha nos crimes financeiros apontados nos relatórios da PF.
Oposição ainda não decidiu posição sobre CPI
Segundo o líder do PT, deputado Maurício Rands (PE), a base aliada ainda não decidiu se terá posição unificada na CPI, que até agora não foi palco de embates políticos ou do uso da tropa de choque governista, a exemplo de recentes CPIs na Câmara, como a do Cartão Corporativo e a do Apagão Aéreo.
- Mas tem que ver se a intenção não é apenas criar espuma e causar desgastes. Porque a investigação em si, somos a favor. O governo e o PT apóiam a ação da PF. Eu gostaria de ver esclarecida a farra na privatização da Telebrás e quem são os favorecidos com as cotas do fundo do Opportunity nas Ilhas Cayman - disse Rands, em alusão à suspeitas de envolvimento de políticos da oposição com possíveis ilícitos de Daniel Dantas.
O deputado tucano Gustavo Fruet (SP) pretende rebater essas insinuações e defender a ampliação de foco da CPI, com base em jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), em caso de fatos novos dentro do escopo original. Por enquanto, os depoimentos, convites e pedidos de informações ficarão focados na questão das escutas telefônicas clandestinas, em especial por meio do "gancho" da empresa americana Kroll, acusada de espionar o governo Lula a mando de Dantas.
Para Marcelo Itagiba, os depoimentos de Dantas e Nahas - que trabalhou como consultor para a Telecom Itália com vistas aos negócios no Brasil - têm "nexo causal" com o caso Kroll.
Sobre Gushiken, Itagiba avalia ser necessário esclarecer por que o então ministro da Secretaria de Comunicação do governo teria solicitado uma varredura de escutas ambientais em seu gabinete à empresa Telemar.
Greenhalgh teria que esclarecer grampo
Já Greenhalgh teria que depor para esclarecer se seu telefone foi grampeado como investigado ou simplesmente por ser advogado de um dos alvos.
- Precisamos saber se as pessoas vinculadas ao Opportunity e a Dantas usaram grampos para praticar crimes. Fora isso, o governo precisa ficar muito atento a esta investigação. Até para saber se está modificando a legislação e alocando recursos do BNDES numa operação de telefonia (fusão BrT-Oi) no meio de um processo que pode ter envolvido tráfico de influência e corrupção - disse Itagiba.