Título: Luiz Eduardo Greenhalgh tem trajetória ligada a direitos humanos
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Fonte: O Globo, 15/07/2008, Economia, p. 22

LIGAÇÕES PERIGOSAS: Amizade com Gilberto Carvalho é da década de 1970.

Deputado por quatro mandatos, advogado ajudou a fundar PT e MST.

BRASÍLIA. Antes de ser apontado pela Operação Satiagraha como suposto braço político do banqueiro Daniel Dantas no Congresso e no Palácio do Planalto, o ex-deputado federal e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, 60 anos, teve uma trajetória ligada à luta dos direitos humanos no Brasil e aos movimentos populares. Formado em advocacia na tradicional Escola de Direito do Largo São Francisco, da USP, na década de 60, Greenhalgh teve sua linha de atuação voltada a questões agrárias, na defesa das minorias e pessoas carentes, sobretudo sem-terra, operários e índios.

Nas últimas três décadas, sempre esteve à frente dos projetos da esquerda brasileira, como a luta pela anistia. Durante os anos 70, ele defendeu importantes presos políticos perseguidos pela ditadura militar, entre eles o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse período, ganhou a amizade de Lula. Na intimidade, o presidente costuma chamar Greenhalgh pelo apelido de Mococa. É também desse período sua amizade com Gilberto Carvalho, atual chefe de gabinete de Lula.

Greenhalgh ajudou a fundar o PT e o MST, entidade para a qual advoga desde a sua fundação. Foi advogado do ex-líder do MST José Rainha Junior, afastado da direção nacional do movimento.

Em sua trajetória, Greenhalgh também se envolveu em questões polêmicas. Vice-prefeito de São Paulo, na gestão petista de Luiza Erundina (1989/92), foi acusado de captar dinheiro irregularmente para a campanha de Lula a presidente em 1989.

Greenhalgh participou da acusação dos assassinos do índio Pataxó Galdino de Jesus - incendiado por jovens de classe média de Brasília no final dos anos 1990 - e acompanhou, como advogado do PT, as investigações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002.

Deputado federal em quatro mandatos, Greenhalgh foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara, e relator do Estatuto do Desarmamento. Em 2005, chegou a ser indicado pelo PT para ser o candidato do partido à presidência da Câmara, mas depois de uma dissidência do grupo do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), seu nome perdeu força e ele foi derrotado em plenário pelo ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

Foi durante campanha para a presidência da Câmara, em 2005, que Greenhalgh se aproximou do publicitário Guilherme Sodré, citado nas gravações da Operação Satiagraha como lobista do grupo Opportunity em Brasília. Foi Sodré quem convidou Greenhalgh, no ano passado, para trabalhar para Daniel Dantas com o objetivo de encontrar uma solução para o litígio entre o banqueiro e os fundos de pensão e o Citigroup - esses últimos controladores da Brasil Telecom. Nos relatórios da PF, Greenhalgh é citado como LEG (suas três iniciais), ou "Gomes", em referência ao personagem da Família Addams.

Em 2006, Greenhalgh não conseguiu a reeleição para a Câmara e voltou à advocacia, chegando a trabalhar recentemente na defesa do padre Júlio Lancelotti, acusado de pedofilia, em São Paulo.