Título: Relacionamento complicado
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 15/07/2008, Economia, p. 24
Personagens da Operação Satiagraha têm proximidade com governo Lula.
BRASÍLIA. O fantasma do tráfico de influência ronda o Palácio do Planalto na Operação Satiagraha da Polícia Federal (PF). Diversos personagens das investigações sobre os negócios de Daniel Dantas estão ou estiveram muito próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que preocupa o governo. Essa aproximação vai além de Luiz Eduardo Greenhalgh, petista histórico, amigo e ex-advogado de Lula, que trabalha para Dantas há mais de um ano.
Há registros de encontros de representantes do grupo investigado com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro especial para Assuntos de Longo Prazo, Mangabeira Unger, que trabalhou para o banqueiro - e tentou manter o emprego mesmo assumindo uma pasta do governo.
Muitos dos principais nomes do governo estão citados nos grampos telefônicos feitos pela PF. Greenhalgh, que perdeu a eleição para a presidência da Câmara para Severino Cavalcanti, é peça-chave no quebra-cabeças que liga Dantas ao Planalto. Além de defender o banqueiro, ele usou da proximidade com Gilberto Carvalho, chefe do gabinete de Lula, para checar se Humberto Braz, um dos braços direitos de Dantas, era investigado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Greenhalgh também é responsável por levar o grupo à chefe da Casa Civil: ele foi quatro vezes ao gabinete de Dilma no período em que defendia Dantas. Oficialmente, foi tratar dos interesses da Associação Brasileira do Leite Longa Vida. No último encontro, os produtores foram acompanhados de Guilherme Sodré Martins, o Guiga, lobista de Dantas. O gabinete da ministra confirma o encontro com Guiga, mas diz que ele apenas fazia parte da comitiva. A associação diz que Guiga não é membro da entidade, mas não esclarece o motivo de sua presença.
Mas eles já haviam se encontrado antes. Guiga, ex-marido da atual mulher do governador da Bahia, Jaques Wagner, foi quem providenciou uma lancha para o passeio que Dilma fez em uma viagem a Salvador. O caso repercutiu mal, pois Guiga é amigo de Zuleido Veras, o artífice do suposto esquema de corrupção desbaratado pela PF na Operação Navalha.
Greenhalgh também tentou que o Opportunity contratasse outro petista, o ex-deputado federal e advogado Sigmaringa Seixas, também amigo de Lula, que já esteve cotado para assumir uma vaga no STF. A idéia de Greenhalgh era que Sigmaringa atuasse como advogado criminal do Opportunity, mas não houve acordo. Sigmaringa, porém, poderá ser o advogado de Guiga agora.
Já a relação de Mangabeira Unger com o Opportunity era direta: ele atuava como trustee, uma espécie de curador do grupo, nos EUA. Ele só pôde assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos depois de deixar o cargo de trustee, por orientação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
Outros nomes são Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação, acusado de atuar contra Dantas no Planalto; e o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, cujo nome traz à tona o episódio do mensalão, que lhe custou o cargo. Ele teria se encontrado com Greenhalgh recentemente por intermédio de Evanise Maria da Costa Ramos, que trabalha na Casa Civil e é namorada de Dirceu.