Título: Polícia faz nova operação no Amapá
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 16/07/2008, Economia, p. 24

Objetivo é desarticular quadrilha que falsificava laudos de jazidas de ouro.

MACAPÁ (AP). A Polícia Federal deflagrou ontem uma nova operação no Amapá para desarticular uma quadrilha acusada de atuar na falsificação de laudos e relatórios sobre existência de jazidas de ouro em Calçoene, no Amapá, para atrair investimentos de empresas estrangeiras. Oito pessoas foram detidas e outras duas estavam foragidos. Os presos foram liberados pela Justiça no fim do dia.

O esquema contaria com a ajuda de dois servidores do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no estado, que emitiam documentos forjados, superestimando o potencial mineral naquela área. Foram presos os servidores João Picanço Neto, ex-chefe do departamento, e Joana Biraci Borges, ambos do DNPM e que estavam próximos de se aposentar do órgão.

A operação foi batizada de "Akator", uma referência à palavra de origem maia que significa Eldorado. Uma antiga lenda supostamente contada por índios da região aos espanhóis na época da colonização das Américas dava conta que seria construída uma cidade toda feita de ouro maciço.

PF: mineradora subornava funcionários da DNPM

De acordo com a Polícia Federal, funcionários da mineradora Cachoeira teriam subornado os servidores do DNPM. Eles apresentavam falsos laudos elaborados por pesquisadores e geólogos comprados pela empresa e repassavam aos dois funcionários para que dessem validade ao documento. Depois, com o respaldo do órgão federal, a International Global Research, multinacional que controla a Cachoeira, divulgava a "descoberta" de mina de ouro no Brasil no Canadá, e em outros países, e conseguiam investimentos de outras empresas estrangeiras, vendendo as ações da mina na bolsa de valores.

"Esses relatórios são aprovados irregularmente por alguns servidores corruptos do DNPM, que patrocinam os interesses da Cachoeira no órgão, mantendo a aparente legalidade da empresa e dotando as pesquisas de credibilidade", diz nota da Polícia Federal.

Entre os envolvidos no golpe, está Maria Angélica Pimente, vice-presidente da Junta Comercial do Amapá. Para a PF, o grupo formava uma "organização criminosa". João Picanço é irmão do ex-deputado federal Badu Picanço (PR) e foi indicado para a chefia do órgão, há quatro anos, pelo irmão, que então tinha mandato. O atual chefe do departamento no Amapá, Celso Soares Júnior, disse que já tinha tempo para se aposentar como servidor público. Além de processo penal, ele vai responder a sindicância interna no departamento e deverá ser demitido a bem do serviço público, segundo fontes. Assim, ele perderá o direito a se aposentar como funcionário público e perde, por exemplo, a aposentadoria com valor integral do salário.

Servidora teria recebido cimento como propina

O delegado Fernando Chuy, que preside o inquérito, disse que Picanço recebia, periodicamente, dinheiro vivo da mineradora. Ele não revelou quanto. A outra servidora do DNPM, Joana Biraci, recebia também vantagens, como sacos de cimento para reforma de sua residência, segundo o delegado responsável pelas investigações.

Dos oito presos, apenas dois estavam detidos no fim do dia. Apesar da prisão temporária se estender até cinco dias, a Justiça entendeu que, depois de prestarem depoimento, não havia razão para manter todos presos. (Evandro Éboli, enviado especial)