Título: Dólar cai a menor piso em nove anos: R$1,587
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 16/07/2008, Economia, p. 25

Cotação volta a nível de janeiro de 1999 com cenário global e expectativa de ingresso de recursos com oferta da Vale.

Em uma semana recheada de divulgação de resultados financeiros de bancos americanos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ontem um dia de forte volatilidade, acompanhada pelo dólar. A moeda, que chegou a subir a R$1,601 pela manhã, fechou em queda de 0,37%, a R$1,587, no horário em que a Bolsa operava perto de sua pontuação máxima. Esta foi a menor cotação em nove anos, desde 19 de janeiro de 1999, ano da maxidesvalorização cambial. A Bovespa fechou em alta de 0,48%, aos 61.015 pontos.

Segundo especialistas, a desvalorização da moeda foi uma tendência global. O dólar caiu frente a outras moedas, como o euro e o iene.

Venda de ações da Vale a estrangeiros atrairá US$5 bi

Segundo o diretor de câmbio da Fair Corretora, Mário Paiva, os investidores se deram conta de que as medidas anunciadas pelo banco central americano para ajudar as financeiras hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, no dia anterior, não terão resultado rápido.

- Elas terão que passar pelo Congresso. E, com o mercado cada vez mais descrente, o dólar se desvalorizou frente a outras moedas. No Brasil, não foi diferente - observou.

Outro fator que teria influenciado na queda do dólar frente ao real seria a oferta global de ações da Vale. A empresa deverá captar até R$20 bilhões e a estimativa é de que demanda de estrangeiros represente, ao menos, a entrada de US$5 bilhões no país.

- Muitos bancos, diante da expectativa de novas entradas de recursos e de queda da moeda, podem estar se desfazendo do dólar agora para recomprar a divisa a um preço mais barato lá na frente - disse um analista.

Para Francisco Carvalho, gerente de câmbio da corretora Liquidez, a moeda não deverá encontrar forças para subir acima de R$1,62 nos próximos meses. Ele lembra que, no Brasil, a tendência é de aumento da taxa básica de juros Selic, hoje em 12,25% ao ano, para conter a inflação. Já nos Estados Unidos, é esperada a manutenção da taxa de juros, em 2% ao ano.

- Isso facilita ainda mais as operações de arbitragem - diz, mencionando o mecanismo pelo qual investidores tomam empréstimos nos EUA a uma taxa mais baixa para aplicar os recursos no Brasil, com rendimento maior.

Em um dia de forte instabilidade, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa paulista, oscilou ontem ao sabor das notícias no mercado internacional. Pela manhã, dados sobre a inflação ao produtor americano e as vendas no varejo dos EUA fizeram o índice cair à mínima do dia, de 58.789 pontos (queda de 3,18%). Após o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, as bolsas americanas se recuperaram, atraindo investidores para o Brasil.

Entre as ações que mais subiram estiveram as de construção civil, como Cyrela (8,69%) e Rossi (6,32%).

- Alguns papéis haviam caído bastante, especialmente em função de sua exposição a investidores estrangeiros. Com o preço mais barato e a melhora do mercado americano à tarde, muitos quiseram retomar parte de suas posições no Brasil - explicou Rafael Moysés, da Umuarama.

Ações de empresas de Eike Batista se recuperam

Depois de caírem 14% nos últimos dois pregões, as ações da MMX, do empresário Eike Batista, se estabilizaram ontem. Os papéis da mineradora subiram 2,85%. Já os papéis da MPX, empresa de energia do grupo, ganharam 1,31%. A única a apresentar queda, de 10,17%, foi a ação da OGX, do setor de petróleo.

- Esse comportamento (da OGX) está muito mais associado à queda do petróleo no mercado internacional. Acho que o "efeito PF" já passou - disse um analista, referindo-se às investigações da Polícia Federal envolvendo as empresas.