Título: Preço do petróleo tem maior queda em 17 anos
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Fonte: O Globo, 16/07/2008, Economia, p. 26

Alerta para desaceleração da economia americana afeta preços da "commodity". Euro tem alta recorde sobre dólar.

NOVA YORK e WASHINGTON. Os preços do petróleo despencaram ontem mais de US$6 diante do crescente temor de que a desaceleração da economia dos EUA, o maior consumidor mundial do produto, afete a demanda pela commodity. Foi a maior queda em dólar desde 1991. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, ajudou a ampliar o nervosismo, ao admitir ontem que os mercados estão sob forte estresse - devido à crise no setor de hipotecas e a altos custos de combustíveis e alimentos - e que ainda há sinais de que o crescimento econômico do país encontra-se ameaçado.

- A possibilidade de preços de energia mais altos, piores condições de crédito e uma contração ainda maior nos mercados de moradias representam um risco significativo para as perspectivas de crescimento - disse o presidente do Fed. - Ao mesmo tempo, os riscos de alta da inflação se intensificaram recentemente.

Na Bolsa Mercantil de Nova York, o preço do petróleo do tipo leve (WTI) recuou 4,4%, para US$138,74 o barril, a maior queda diária em 17 anos. Durante a sessão, a cotação do WTI chegou a US$135,92. Já na Bolsa Internacional de Petróleo, em Londres, a cotação do barril do Brent caiu 3,4%, para US$138,75.

- Parecia uma liquidação em grande escala (de posições) de bancos. Não um banco específico, mas vários bancos - disse Addison Armstrong, diretor de pesquisa de mercado da Tradition Energy, em Stamford.

Na esteira das preocupações com a saúde financeira americana, o euro atingiu ontem o recorde de US$1,6038. O recorde anterior era de US$1,6018, de 22 de abril. Depois, a moeda única européia recuou para US$1,5878 em Nova York, ainda abaixo da cotação da véspera, de US$1,5916.

Secretário do Tesouro justifica ajuda a empresas

Ontem, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo sua previsão global de demanda do petróleo para 2008. Trata-se da quarta vez este ano que o cartel reduz sua projeção de consumo, alimentando expectativas de que haverá mais queda em 2009. Além disso, o anúncio da Petrobras de que sua produção já estaria normalizada, apesar da paralisação dos petroleiros de plataformas da Bacia de Campos, também ajudou a puxar para baixo os preços do petróleo, segundo operadores.

Os investidores optaram pelo petróleo e outras commodities este ano como forma de garantia contra a queda do dólar e a alta inflação nos mercados globais. Essa movimentação fez o preço do petróleo saltar 50%, para mais de US$147 este mês. Os ganhos no setor também foram estimulados pela crescente demanda de emergentes, como China e Índia, lançando temores quanto a viabilidade do abastecimento mundial.

Porém, consumidores em economias como os EUA, já afetados pela crise financeira no setor de habitação e pela restrição de crédito, começaram a reduzir o consumo de combustíveis no período de verão no hemisfério Norte, quando o consumo tradicionalmente aumenta com as viagens de férias.

- O mercado de petróleo se baseia pesadamente na demanda. À medida que a economia americana continua a se debater, a demanda por petróleo se torna preocupante. - disse Andy Lebow, corretor da MF Global, em Nova York.

Bernanke admitiu ontem que os mercados estão tensos, sobretudo com respeito à situação das firmas ligadas ao setor de hipotecas, como as gigantes Fannie Mae e Freddie Mac, que no domingo receberam o apoio do Departamento do Tesouro e do próprio Fed.

- As autoridades de política monetária vão precisar avaliar cuidadosamente o ingresso de informações sobre as perspectivas tanto para a inflação quanto para o crescimento - disse o presidente do Fed.

Já o secretário do Tesouro, Henry Paulson, afirmou ontem que o governo americano não pretende, no curto prazo, ampliar os empréstimos emergenciais feitos a Fannie Mae e Freddie Mac ou adquirir ações das duas firmas.

Em depoimento no Comitê de Bancos do Senado americano, Paulson classificou como um "backup" (uma reserva de emergência) o plano de ajuda às duas instituições no domingo. Segundo ele, antes de qualquer passo adicional, o governo vai considerar o impacto no bolso dos contribuintes.

- Nosso plano visa à apoiar a estabilidade dos mercados financeiros e não apenas ajudar essas duas empresas - disse o secretário aos senadores. - Isso faz parte da missão do Tesouro.

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