Título: PF: articulação de Dantas e Nahas era para desviar dinheiro público
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 17/07/2008, Economia, p. 22

LIGAÇÕES PERIGOSAS: Delegado suspeita de comando acima do banqueiro.

Alvos seriam projetos em áreas estratégicas de estatais privatizadas.

SÃO PAULO. O objetivo principal da suposta articulação entre os grupos do banqueiro Daniel Dantas e do investidor Naji Nahas é desviar dinheiro público, aponta a Polícia Federal (PF) em seus relatórios da Operação Satiagraha. Os alvos seriam megaprojetos em oito áreas de estatais privatizadas no país: portos, siderurgia, refinarias, elétricas, água, minas e telefonias fixa e móvel. Os cofres públicos também teriam sido atingidos por meio de operações dos grupos junto ao BNDES e a 11 fundos de pensão, por "mais de uma década".

Em um dos documentos, a PF reproduz um diagrama de elos da organização de Dantas, que se interligaria com Nahas, apontado como um colaborador direto. O suposto esquema nasce do acordo guarda-chuva do Opportunity com o Citigroup (Umbrella Deal) e 11 fundos de pensão de estatais brasileiras. Os desdobramentos dependem ainda de cruzamentos de documentos já apreendidos pela PF.

Ao mesmo tempo em que demonstram estar informados sobre as investigações e os monitoramentos da PF, Nahas e Dantas não conversam diretamente pelos telefones interceptados. Segundo a PF, eles marcavam reuniões e usavam celulares internacionais ou de prepostos, como Humberto Braz, o Guga, ou Arthur Joaquim de Carvalho, do Opportunity. Guga chegou a ser fotografado pelos agentes, saindo do escritório de Nahas, dia 14 de maio, às 11h30m. Segundo a PF, a reunião foi realizada com autorização de Dantas.

Nahas comandaria empresas de fachada

Em seus relatórios, o delegado Protógenes Queiroz afirma que as duas estruturas criminosas, de Nahas e Dantas, têm uma divisão de tarefas muito bem definida. Segundo ele, no esquema de funcionamento há vários níveis de poder de decisão. Em um dos documentos, Protógenes afirma: "Há uma leve suspeita de que além de Nahas e Dantas existe um comando central acima deles, até então ainda não identificado".

Na organização liderada por Dantas, ele concentra todas as decisões de estratégias, investimentos, aporte de recursos ou qualquer saída dos caixas do Opportunity, além do mercado paralelo de moeda estrangeira.

Com Nahas, a estrutura é diferente: ele chefiaria um grupo de operadores e doleiros, além de fazer negócios em vários setores e ter um esquema próprio de obtenção de informações privilegiadas. Nahas comandaria também uma série de empresas de fachada em nomes de parentes e laranjas. O investidor contaria com informações privilegiadas, dos EUA e do Brasil.

As investigações sobre as conexões entre Dantas e Nahas foram um desdobramento da Satiagraha. O elo teria tido início durante as privatizações do sistema de telefonia. Nahas intermediou a entrada da Telecom Italia no consórcio organizado por Dantas e, depois, teria servido de mediador no conflito entre os dois.