Título: Grupo teria tentado subornar juiz
Autor: Suwwan, Leila; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 17/07/2008, Economia, p. 23

Escuta revela assessora do Opportunity dizendo que De Sanctis não é corruptível.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Além da tentativa de suborno a um delegado por Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom Participações, o inquérito da Operação Satiagraha levanta a suspeita de que o grupo do empresário Daniel Dantas, do Opportunity, também teria cogitado subornar o juiz federal Fausto de Sanctis, encarregado do caso, e transcreve grampos telefônicos dos investigados que podem colocar sob suspeição a atuação da desembargadora Cecília Mello, do TRF da 3ª Região (SP).

Em interceptação telefônica de 21 de maio, Danielle Silbergleid Ninnio, chefe do departamento jurídico do Opportunity, avisa a um homem não identificado que tem informações "quentes" e "preocupantes" em relação às informações que tentaram obter na Justiça Federal sobre uma ação contra Dantas.

Ela relata ter recebido recado de que De Sanctis não é corruptível e que Cecília estava sob forte pressão após modificar seu posicionamento no caso. Primeiro, ela considerou estar impedida de ser a relatora de um habeas corpus preventivo impetrado por Dantas na Justiça de São Paulo. Depois, decidiu que não tinha impedimento.

"A gente descobriu: esse juiz, o Fausto, meio que organizou um motim. Deixe eu explicar o que ele fez: quando a gente entrou com o HC (habeas corpus) preventivo e a Cecília pediu informações, ele reuniu todos os juízes e falou que a gente estava litigando de má-fé e que era um absurdo. A informação que veio pra gente é que a gente ficasse muito atento, porque ele tem todos os defeitos do mundo com exceção de ser corrupto, que ele não é, segundo o que foi informado. Mas que ele é assim, é um filho da puta de primeira, adora holofote, adoraria fazer uma arbitrariedade e que tava "p" da vida que isso aqui foi monitorado", disse Danielle na conversa interceptada.

Desembargadora recorre ao MP para investigar escuta

Cecília pediu ao Ministério Público Federal para investigar se houve escuta ilegal ou "impropriedade técnica" na transcrição do relatório da Satiagraha, no qual constam referências sobre suas conversas com o advogado de Dantas, Nélio Machado. Em conversas interceptadas pela PF, Nélio chama a desembargadora de "nossa amiga Cecília" e diz que ela mandara "um recado", de que estava "ciente do caso".

Cecília diz conhecer Machado e Ilana Muller, outra advogada de Dantas, mas que isso não representa uma irregularidade:

- Falei com eles diversas vezes pessoalmente, com os doutores Nélio Machado e Ilana sobre o caso, e algumas por telefone, da mesma forma como mantenho contato com todos os advogados que atuam em processos que estão no meu gabinete e que assim solicitam. (Leila Suwwan e Henrique Gomes Batista)