Título: Deputados de Alagoas criam cargos
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 18/07/2008, O País, p. 10

E ainda aumentam salário do governador de R$11,5 mil para R$17,2 mil.

MACEIÓ. Em meio a uma grave crise política, com deputados estaduais acusados de desvio de dinheiro público, de assassinatos e até de furto de energia elétrica, os parlamentares de Alagoas tentaram aumentar os próprios salários, mas não conseguiram. Houve espaço, porém, para criar novos cargos de confiança e engordar os vencimentos do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), de R$11.500 para R$17.200, e, ao mesmo tempo, livrá-lo de ser processado pelo Superior Tribunal de Justiça no inquérito que investiga a Operação Navalha.

Os deputados negaram o pedido feito pelo STJ para investigar Teotonio. Ele é acusado de receber R$500 mil do empresário Zuleido Veras, dono da construtora Gautama. O governador nega.

A Assembléia criou 60 cargos comissionados, sem necessidade de concurso, com salários médios de R$500. Oposição e governo apoiaram a iniciativa:

- Isso não é trem da alegria. Estes cargos foram criados especificamente para os prestadores de serviço. A discussão envolveu todos os parlamentares - disse o líder do governo, Alberto Sextafeira (PSB).

- Não concordo que isso seja trem da alegria. Os salários médios são de R$500 - disse o deputado Paulo Fernando dos Santos (PT), o Paulão, integrante da oposição.

Os deputados entraram em recesso e só voltam aos trabalhos em agosto. Segundo Alberto Sextafeira, os deputados "entenderam o momento político" e não elevaram seus salários:

- O projeto foi lido em plenário e houve reação imediata. Não é o momento para isso.

Aumento para facilitar negociação com categorias

O salário dos deputados passaria de R$9.600 para R$12.400 e beneficiaria o bolso de 11 deles, afastados dos mandatos pela Justiça. Três deles estão presos, acusados de pistolagem - pagar policiais militares para matar desafetos políticos.

Segundo a assessoria do governador, o reajuste de seu salário ocorreu para "facilitar a negociação" com categorias como os fiscais de renda e os delegados de polícia, que têm o teto dos vencimentos fixados em função do que recebe o chefe do Executivo.

Alagoas é um dos estados mais pobres do Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 80% da população recebe até dois salários mínimos (R$920). O estado está no topo do ranking dos índices negativos em educação, incluindo analfabetismo.