Título: Condenados no caso trabalham normalmente
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 18/07/2008, Economia, p. 32

Ex-presidente do BC dá consultoria e escreve livro sobre psicanálise. Ex-diretores estão no Unibanco e Itaú.

Nem um único tostão do R$1,5 bilhão liberado pelo Banco Central (BC) para socorrer o Banco Marka e o FonteCindam voltou aos cofres públicos. Apesar da condenação decretada, em 2005, pela Justiça Federal do Rio, o processo tem ainda algumas instâncias judiciais para percorrer. A juíza Márcia Helena, do Tribunal Regional Federal (TRF) do Rio, está debruçada sobre a sentença e não tem prazo para dar seu parecer.

Fechada em copas, ela diz que não comenta o assunto publicamente. Dependendo de sua decisão, os advogados de defesa dos envolvidos nos escândalos financeiros relativos aos dois bancos podem recorrer ainda ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Pena de reclusão varia de cinco a 13 anos

Com exceção de Salvatore Cacciola, todos os envolvidos no escândalo financeiro do Banco Marka, que recebeu R$900 milhões, e do FonteCindam, que foi socorrido com R$522 milhões, estão trabalhando e esperando em liberdade a decisão final do processo. Oito dos 11 denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) após a ajuda financeira do BC foram condenados à prisão. As condenações ainda são em primeira instância. As penas variam de cinco a 13 anos de reclusão.

Por peculato (delito praticado por funcionário público que usa o cargo para desviar dinheiro ou bem público em proveito próprio ou de terceiros), foram condenados o economista Francisco Lopes, ex-presidente do BC; os ex-diretores da autoridade monetária Demósthenes Madureira de Pinho Neto e Cláudio Mauch; e a então chefe da Fiscalização, Tereza Grossi.

Os três primeiros terão de cumprir dez anos de prisão em regime fechado; ela, seis anos de semi-aberto. Todos poderão recorrer da pena em liberdade, mas alguns deles, como Tereza e Mauch, já foram obrigado a cancelar suas aposentadorias como servidores do banco, segundo informou o procurador Arthur Gueiros, do MPF, responsável pela denúncia. O único que foi condenado a 13 anos foi Cacciola.

Chico Lopes presta consultoria e escreve livro

Acostumado a se deitar no divã nas sessões de análise, o ex-presidente do BC divide seu tempo entre um livro de psicanálise, que está escrevendo e ainda não tem prazo para ser publicado, e as consultorias macroeconômicas por meio de sua empresa, a Macrodados, que ficou conhecida no mercado como Macrométrica.

- Estou esperando a decisão da Justiça - respondeu secamente Lopes, ao ser perguntado sobre a afirmação de Cacciola, feita logo que chegou à PF, no Centro do Rio, de que gostaria de esperar em liberdade a decisão da Justiça, assim como os outros condenados.

Tereza e Madureira de Pinho trocaram o setor público pelo privado. A ex-diretora do BC ocupa um assento no Conselho de Administração do Banco Itaú, enquanto Madureira de Pinho é vice-presidente de Varejo do Unibanco. Nenhum dos dois retornou às ligações do GLOBO.

Outros condenados - Mauch; o ex-presidente do extinto FonteCindam Luiz Antonio Gonçalves; e o amigo de infância de Chico Lopes e irmão de Sérgio Bragança, ex-sócio do economista na consultoria Macrométrica, Luiz Augusto Bragança - não foram encontrados. Roberto José Steinfeld, ex- dono do FonteCindam, morreu em 2005.