Título: MPF recorrerá de veto à prisão de Dantas
Autor: Rodrigues, Lino; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 19/07/2008, Economia, p. 25

Procuradores alegam reiteração de prática criminosa, lembrando caso Kroll.

SÃO PAULO. O Ministério Público Federal recorrerá ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região contra a decisão da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que negou novo pedido de prisão preventiva do banqueiro Daniel Dantas. A requisição foi feita em 11 de julho pelos procuradores da República Anamara Osório Silva, Ana Carolina Yoshi Kano e Kleber Marcel Uemura, responsáveis pelas três ações penais do caso. Eles alegam reiteração de prática criminosa e dizem, em referência ao caso Kroll, que Dantas "voltou a corromper" agentes públicos em busca de vantagens ilegais.

No caso Kroll, em que Dantas é acusado de crimes de divulgação de segredo e corrupção ativa, o empresário chegou a ter prisão pedida. O processo aponta que ele teria ordenado o pagamento de propina a uma servidora da Delegacia de Crimes Financeiros da PF para que ela passasse informações sobre uma investigação para o filho, que trabalhava na Kroll. A empresa havia sido contratada por Dantas para investigar a Telecom Italia. Ainda no caso Kroll, Dantas responde a um segundo processo por grampo ilegal.

"Nós vamos esperar que ocorra um terceiro caso de corrupção envolvendo Daniel Dantas para que ele vá para a prisão e fique preso?", indagou a procuradora Anamara Silva.

As investigações da Operação Satiagraha apontam que Dantas comandou uma tentativa de suborno de US$1 milhão ao delegado Vitor Hugo Ferreira. O dinheiro foi oferecido por Henrique Braz e Hugo Chicaroni, visando a retirar o nome de Dantas, de sua irmã Verônica e de um outro parente das investigações. As provas encontradas e o depoimento de Chicaroni motivaram, no dia 10, a prisão preventiva de Dantas, revogada posteriormente pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. No dia 15, foi aberto um processo criminal contra o banqueiro.

Os procuradores dizem haver "fortes indícios de que Dantas voltou a praticar um dos mesmos crimes em que é processado no Caso Kroll". E explicam que o pedido tem respaldo em várias decisões do STF e do Tribunal Regional Federal (TRF), que reconhecem o objetivo de impedir a reiteração de práticas criminosas como uma das circunstâncias para decretar a prisão preventiva. O MPF disse discordar da juíza federal substituta Janaina Rodrigues Gomes, que alegou que Dantas teria que reiterar o crime de corrupção ativa nos mesmos autos do caso Kroll para ensejar uma nova prisão.