Título: Polícia Federal indicia Daniel Dantas e mais nove por gestão fraudulenta
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 19/07/2008, Economia, p. 26

LIGAÇÕES PERIGOSAS: Banqueiro já responde processo por corrupção ativa.

Advogado afirma que cliente está sendo implacavelmente perseguido.

SÃO PAULO. A Polícia Federal indiciou ontem o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e mais nove pessoas investigadas na Operação Satiagraha, que apurou crimes financeiros, revelou ontem o advogado dos réus, Nélio Machado. Todos responderão por gestão fraudulenta e formação de quadrilha. Dantas já é réu em um outro processo, este por corrupção ativa, em que é acusado de tentar subornar um delegado da PF que participou da operação. Esta primeira denúncia, feita pelo procurador Rodrigo de Grandis, do Ministério Público Federal de São Paulo, foi acolhida na quarta-feira pelo juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal.

Além do banqueiro, foram indiciados pela PF Verônica Dantas (sua irmã), Carlos Rodemburgo (sócio e vice-presidente do Opportunity), Itamar Benigno Filho, Norberto Aguiar Tomáz, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Maria Amélia Coutrim, Dório Ferman e Danielle Silbergleid Ninio. Todos estiveram ontem na sede da PF em São Paulo para depor, mas por orientação de Nélio Machado, não responderam às perguntas feitas pelo delegado Protógenes Queiroz - que deixará o caso a partir de segunda-feira.

Foi a terceira vez que a PF tentou ouvir Dantas, sem sucesso. Ele e os demais acusados chegaram por volta das 14h40m e só saíram às 19h55m, sem dar entrevista.

Advogado de ex-banqueiro critica Lula e Tarso Genro

Ao chegar ao prédio, o advogado do banqueiro criticou o presidente Lula e o ministro da Justiça, Tarso Genro. Para ele, Lula não poderia de forma alguma ter determinado a divulgação de trechos da conversa do delegado com seus superiores, e agora o governo teria a obrigação de divulgar o teor completo da reunião, com três horas de duração. Sobre Tarso, Machado disse que o ministro não poderia emitir juízo de valor ao dizer que Dantas era culpado e que teria dificuldades para se defender, pois "afinal as investigações ainda nem terminaram".

As divergências públicas entre autoridades dos poderes Executivo e Judiciário, cúpula da Polícia Federal, delegados e procuradores a respeito da Operação Satiagraha serviram de munição para a defesa dos suspeitos. Nélio Machado protocolou um documento no qual usa as divergências como justificativa para que seus clientes se recusassem a responder ao interrogatório da PF.

- Daniel Dantas está sendo perseguido e é visível que o poder está esfacelando. É uma perseguição política implacável, uma verdadeira devassa medieval - disse o advogado.

Para Machado, a novela em torno do afastamento ou não do delegado Protógenes Queiroz, as entrevistas do juiz Fausto de Sanctis, do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do próprio presidente Lula, e a divulgação de trechos de uma reunião entre delegados e a cúpula da PF, entre outras coisas, representam fatos atípicos que prejudicaram o andamento do inquérito policial.

- É evidente que é uma perseguição política. Eu estou diante de um processo político. Freqüento o ambiente da PF há 30 anos. O que vejo é um delegado, um promotor e um juiz. Não vemos ministro de Estado falando sobre investigação, e muito menos o presidente da República e gravação de três horas de conversa - disse Machado.

Ele anexou um documento de seis páginas ao inquérito no qual justifica por escrito os motivos do silêncio de seus clientes.

"A abstenção decorre dos vícios insuperáveis e de fatos estranhos, inusitados, irregulares e inortodoxos que permeiam a investigação", alega o advogado.

No documento, ao criticar a condução da investigação, Machado chega a dizer que "não raro, é preciso refazer tudo, para que a investigação se oriente no rumo certo, até então despercebido", e conclui com uma citação ao jurista Sobral Pinto que certa vez, ao argumentar que um cliente era alvo de arbitrariedades da polícia, ameaçou evocar a lei de proteção aos animais.

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