Título: Chapa tucana
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2009, Política, p. 06

Nessa fofoca, só está certo o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB. Para ele, um acordo entre os dois presidenciáveis ¿é possível¿, mas "Aécio não tem disposição de abrir mão da vaga neste momento". Em outras palavras: Serra não propôs e Aécio não aceitou ser vice.

A grande fofoca política da semana é que os tucanos se entenderam. Segundo a imprensa paulista, Serra e Aécio se acertaram em relação à chapa do PSDB para 2010. Para espanto geral, Aécio aceitou ser o candidato a vice-presidente.

Quem acreditar nisso não terá mais dúvidas a respeito do comportamento dos tucanos na sucessão de Lula. Para enfrentar a candidatura do governo, virão com uma chapa ¿puro sangue¿, tendo o governador de São Paulo na cabeça e o de Minas como coadjuvante.

O único problema da notícia é que ela não existe. Ou seja, tudo não passa mesmo de uma fofoca, como o próprio Aécio já deixou claro.

Não é preciso ter qualquer informação privilegiada, acesso a nenhuma dica de cocheira, para ver que ele não diz isso para esconder o jogo. Basta o bom senso.

Uma informação como essa só poderia ser dada por Aécio, que não a deu a ninguém. Quem acompanha sua movimentação atual, percebe, ao contrário, que tudo que faz tem como objetivo evitar que a decisão sobre a chapa tucana seja tomada em um momento que ele considera prematuro.

Seu comportamento mostra que ele está convencido de, pelo menos, três coisas: 1) que seu partido deve deixar a discussão de nomes para depois, fixando-se na elaboração e apresentação de uma proposta que o candidato, quem quer que seja, defenderá ano que vem; 2) que a melhor maneira de chegar ao nome é ouvindo suas bases e filiados, através de prévias; 3) que, nesse processo, o PSDB pode rejuvenescer, estabelecendo uma nova relação com seus integrantes e com a opinião pública, ocupando o noticiário e assim evitando que seja monopolizado pela candidatura do governo.

Aécio não deu, até agora, qualquer sinal de que tenha passado a descrer dessas teses. Suas manifestações sobre o assunto são claras, assim como sua agenda. Pelo que se lê nos jornais, recebe, com frequência, lideranças de seu partido Brasil afora e interlocutores de outros partidos, que costumam concordar com ele (ou, pelo menos, dizer que concordam). Sempre que fala à imprensa, reitera sua argumentação básica.

Qual seria, então, a razão para fazer com que o país soubesse, por uma via torta, que mudou de ideias? Que fez, em maio, uma escolha que só teria que fazer daqui a vários meses?

Outra consideração tem a ver com a lógica (ou falta de lógica) de alguém como ele resolver ser candidato a vice-presidente. Para muitas pessoas, é um posto de grande significado, um reconhecimento do que foram na vida. Para outras, no entanto, é um péssimo prêmio de consolação, nada mais que um sacrifício.

O que faz diferença é a perspectiva de futuro que cada um tem. A vice-presidência é ótima apenas para quem não pode chegar à presidência.

Ocupar o Jaburu só é um caminho no caso de desgraças. Com Fernando Henrique e Lula, por exemplo, que portas se abriram para os vices? Alguém sequer pensou em Marco Maciel quando chegou a hora? E em José Alencar hoje, independente das muitas qualidades de ambos e do momento pelo qual Alencar passa?

Ninguém propõe um compromisso político para daqui a sabe-se lá quantos anos (4? 5? 8?), nem ninguém aceita. O que vai acontecer com a chapa tucana na sucessão de quem vencer em 2010 é inegociável. Nem Serra, nem Aécio fariam hoje um pacto sobre ela.

Nessa fofoca, só está certo o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB. Para ele, um acordo entre os dois presidenciáveis ¿é possível¿, mas ¿Aécio não tem disposição de abrir mão da vaga neste momento¿. Em outras palavras: Serra não propôs e Aécio não aceitou ser vice.

Pode ser que a fofoca seja mais que especulação. Quem sabe, nela se expressa o desejo de alguns líderes tucanos, que gostariam que as coisas fossem assim. Resta a discutir, no entanto, o papel dos jornalistas que apresentam como notícia o que é apenas o sonho de uns.