Título: Brasil vai abrigar usina de carvão do Uruguai
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 19/07/2008, Economia, p. 32

Ministro Lobão diz que termelétrica no Rio Grande do Sul não será poluente e alega: "a contrapartida é a amizade".

O Uruguai vai construir uma usina termelétrica a carvão no Brasil para atender suas necessidades de energia elétrica. A informação foi dada ontem pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, após se reunir no Rio com seu colega de pasta, o ministro de Energia do Uruguai, Daniel Martinez. A usina terá capacidade de 350 megawatts (MW) e será construída na cidade de Candiota, no Rio Grande do Sul. Segundo o ministro do Uruguai, a usina não afetará o meio ambiente no Brasil porque serão usadas as tecnologias mais avançadas para evitar a poluição. Essas tecnologias, segundo Martinez, representarão um aumento nos custos do projeto da ordem de 40%.

- Esse tipo de acordo não é uma coisa comum, mas a amizade dos dois países é de tal sorte que o Brasil concorda plenamente que a térmica seja situada em seu território, com a energia totalmente transportada para o Uruguai - disse Lobão.

Carvão só polui no transporte, diz Lobão

O ministro Edison Lobão afirmou que o carvão só é poluente quando é transportado. Por isso, o Brasil aceitou a proposta de a usina uruguaia ser construída próxima à mina de carvão em Candiota. O projeto está ainda em estudos, segundo o ministro uruguaio, mas ele adiantou que será um empreendimento com capital estatal uruguaio e também da iniciativa privada. O Brasil, por sua vez, não terá nenhuma contrapartida com o projeto.

- A contrapartida para o Brasil é a amizade - afirmou o ministro Lobão.

Outro negócio fechado ontem entre os dois ministros foi o fornecimento de energia pelo Brasil para o Uruguai sem ser cobrada, ou seja, num sistema de troca, como já é feito com a Argentina. A partir hoje, o Brasil vai fornecer cerca de 72 MW ao país vizinho. O ministro Lobão explicou, que pelo modelo acertado, quando o sistema hidrológico no Uruguai melhorar, possivelmente a partir de setembro, o país devolverá a energia recebida.

Desde 2004, o Brasil vem fornecendo energia ao Uruguai só que esta era de origem termelétrica, mais cara do que a hidráulica, e era paga. O Uruguai consome 1.700 MW.

A Argentina começou a devolver, há cerca de dez dias, a energia recebida do Brasil nos últimos meses. Segundo o ministro, neste momento a Argentina está devolvendo cerca de 1.800 MW médios, sendo que nos últimos dez dias já entregou quase um terço de toda energia recebida.

Os dois ministros destacaram a importância do acordo na área de energia, como um fator importante de fortalecimento das relações entre os países do Mercosul.

- A idéia do Mercosul é a complementariedade das economias dos países. Esta é uma forma de concretizar o Mercosul com ações pequenas como esta, mas muito importantes - destacou Martinez.

O ministro Edison Lobão destacou que o objetivo do Brasil é ampliar a integração energética entre os países da América Latina. Entre os projetos em estudo, está o de importar três mil MW de energia da Venezuela. O projeto está ainda em fase de análise e prevê a construção de uma linha de transmissão entre os dois países.

Ao comentar sobre como será a exploração de petróleo nas áreas do pré-sal no Brasil, o ministro Lobão garantiu que nenhuma dessas áreas irá à leilão antes de que o governo decida como será sua regulamentação. Lobão disse que é favorável à reabertura e fechamento da 8ª rodada de licitação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que foi suspensa em fins de 2006, para permitir a assinatura dos contratos dos blocos que tinham sido arrematados antes da sua suspensão. Lobão disse ainda que é favorável também à realização da 10ª Rodada, mas sem os blocos do pré-sal.

Em 60 dias, comissão de pré-sal apresentará propostas

A questão das duas licitações será discutida na reunião o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que vai ser realizada no próximo dia 22. O ministro disse que, em 60 dias, a Comissão de Pré-Sal criada nesta semana apresentará suas sugestões ao governo federal em relação à regulamentação para os blocos no pré-sal.

- Enquanto essa questão não for definida, não se leiloará absolutamente nada no pré-sal. Faremos alguns leilões em terra e até nas "franjas" (áreas próximas) do pré-sal, mas nessa área não, até que se altere o marco regulatório, com as sugestões que serão apresentadas - disse Lobão.

O ministro Lobão afirmou que, durante o período em que a Comissão Pré-Sal, estiver realizando os estudos, ninguém do governo vai se pronunciar. A medida visa evitar atritos em público como os ocorridos recentemente entre Lobão e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli