Título: Lula e Chávez fazem ato de apoio a Morales
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 19/07/2008, O Mundo, p. 34

Brasil anuncia repasse de US$230 milhões para estrada na Bolívia, e Venezuela, de US$300 milhões para projetos.

RIBERALTA, Bolívia. Um ato político em apoio ao presidente da Bolívia, Evo Morales, com direito a palanque num estádio de futebol lotado a uma temperatura de 40 graus, reuniu os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela. No evento, Lula anunciou US$230 milhões para a construção da rodovia Riberalta - Rurrenabaque. Chávez, que pediu para participar do evento, disse que vai liberar US$300 milhões para projetos de desenvolvimento econômico e social voltados aos bolivianos. A solenidade foi escolhida a dedo: a cidade de Riberalta fica no departamento de Beni, que, assim como Pando, Santa Cruz e Tarija, realizou referendo que resultou, por maioria, no desejo de mais autonomia em relação a La Paz.

Lula pede respeito a decisões democráticas

Ao som de uma banda de música que tocava cantigas típicas, Lula defendeu Evo Morales. Disse ser testemunha do empenho do presidente boliviano para liberação dos recursos destinados à construção da estrada, que faz parte do projeto Hacia el Norte (Rumo ao Norte) e deverá beneficiar, no futuro, o Brasil, com o acesso aos portos do Peru e do Chile no Pacífico. O dinheiro, oriundo do BNDES e do Programa de Financiamento às Exportações (Proex ), vai financiar a obra, que será executada por uma empresa brasileira.

- Faz parte de seu (de Evo Morales) compromisso buscar desenvolvimento econômico e social para o povo boliviano - afirmou Lula. - Nossos povos não têm nada a ganhar com confrontações e embates estéreis. Estamos torcendo para que a Bolívia continue consolidando sua democracia.

No próximo dia 10 de agosto haverá uma grande consulta popular, em nível nacional. Os eleitores vão dizer se querem ou não a manutenção do presidente da República, do vice e dos governadores. Serão ouvidos os nove departamentos do país vizinho.

Morales conta com o apoio de seus colegas sul-americanos, a popularidade de Lula e os petrodólares de Chávez em seu país.

- Quando vi o povo boliviano eleger um índio, vi que foi mais importante do que meu país eleger um metalúrgico. Um índio e um metalúrgico, além de você, companheiro Chávez, não temos o direito de errar e nem precisamos aceitar provocações. Precisamos governar. E exigimos que todos respeitem as nossas decisões democráticas. Somos resultado de eleições diretas e democráticas - disse Lula.

Chávez também elogiou Morales e disse que o momento é de união. Lembrou que criou uma instituição de fomento semelhante ao BNDES e afirmou que usará o banco para ajudar os vizinhos mais pobres.

- Estamos unidos com Evo, sempre defendendo o povo da Bolívia. E o dinheiro do financiamento não vem do FMI (Fundo Monetário Internacional) - brincou Chávez.

Visivelmente emocionado, Morales afirmou que ontem foi um dia histórico para Riberalta. Prometeu que a execução das obras de infra-estrutura e desenvolvimento, a partir de agora, são um caminho sem volta.

- Os investimentos não vão ser mais só discursos - disse o presidente da Bolívia.

Mas, nem tudo foi festa. Lula cobrou, de forma indireta, um tratamento humanitário aos brasileiros que vivem na fronteira com a Bolívia.

*A repórter viajou em avião da Força Aérea Brasileira