Título: Filha de embaixador do Brasil é retida em Israel
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 19/07/2008, O Mundo, p. 35

Laila Pinto Coelho é barrada por quase três horas em aeroporto de Tel Aviv ao tentar visitar os pais. Itamaraty protesta.

TEL AVIV. O embaixador do Brasil em Tel Aviv, Pedro Motta Pinto Coelho, enviou uma nota de protesto ao ministério das Relações Exteriores de Israel condenando a ação que manteve sua filha detida por cerca de três horas na imigração do aeroporto internacional Ben Gurion, em Lod. A embaixadora de Israel em Brasília, Tzipora Rimon, foi ainda chamada pelo chefe do departamento de Oriente Médio do Itamaraty, Sarkis Karmirian, para prestar esclarecimentos sobre o episódio. O incidente diplomático aconteceu na madrugada da última quinta-feira, quando a filha do embaixador, Laila Pinto Coelho, de 25 anos, foi retida para investigações ao chegar ao país para uma visita de um mês.

Caso ganha destaque na imprensa israelense

Laila chegou num vôo da AirFrance vindo de Paris. Por volta da meia-noite, Motta chegou a ver a filha de relance na fila da imigração. Após mais de 40 minutos de espera por sua saída, aflito, ele usou as credenciais diplomáticas para entrar no saguão de desembarque e procurar por Laila. Informado da detenção, Motta se apresentou como diplomata e pediu que a moça fosse liberada. Ele foi recebido com grosseria e expulso da sala. O caso só foi resolvido com a intervenção do chefe do setor protocolar da Chancelaria de Israel, embaixador Itzhak Eldan.

- Fizeram uma grosseria terrível. O oficial me mandou sair da sala aos gritos, dizendo não ter nada a dizer. Tive que telefonar ao plantão de emergência do ministério israelense no meio da madrugada. O oficial se recusou sumariamente a falar com o embaixador no telefone. Somente com a ajuda de Eldan o caso se resolveu - contou Motta.

Em sua terceira visita a Israel, além de visitar os pais, Laila, estudante de medicina, pretende ainda aproveitar as férias para fazer um curso de radiologia no hospital Ichilov, em Tel Aviv. Chateada, ela chegou a classificar o incidente como "humilhante" e reclamou da agressividade dos agentes israelenses:

- Nunca imaginei que seria recebida assim. Israel é um país maravilhoso, mas é pena que os visitantes seja recepcionados desta maneira. Fiquei chateada, as tentativas de argumentação do meu pai não tiveram qualquer efeito.

O caso ganhou destaque na imprensa israelense. Segundo o jornal "Yedioth Ahronot", acredita-se que a jovem tenha sido detida por causa do seu nome, Laila, que tem origem árabe. Ao apresentar o passaporte na imigração, Laila foi perguntada sobre o motivo da visita ao país. Diante da reposta de que iria visitar os pais, despertou as suspeitas dos oficiais da imigração. Segundo o embaixador, o nome foi escolhido justamente por uma velha canção hebraica que falava sobre Laila, que quer dizer "noite" em hebraico.

- Quando tinha 13 anos, ouvi uma famosa música hebraica e me encantei com o som da palavra "laila". Prometi então que este seria o nome de minha filha. Não temos qualquer relação com árabes. Mas, mesmo se houvesse, por que receber um tratamento destes?

Procurado pelo GLOBO, o porta-voz da Chancelaria de Israel, Arie Mekel, preferiu não comentar o incidente. O Ministério do Interior, no entanto, responsável pelos registros de entrada e saída do país, afirma que a investigação não durou mais do que três minutos.

"Um homem invadiu a sala descontrolado afirmando ser o embaixador brasileiro. Ele tentou roubar o passaporte da senhora Laila Pinto Coelho da mesa do oficial. Explicamos que o procedimento terminaria em poucos minutos, mas ele saiu da sala aos gritos, voltando agressivamente com um telefone. Insistimos para que aguardasse do lado de fora e tivesse paciência.", garante o comunicado.

Para embaixador, um "incidente sério"

Motta considera o episódio um "incidente sério".

- Não reconheceram minha condição de representante legal dos brasileiros e do governo do Brasil. Minhas credenciais outorgadas pelo próprio governo israelense foram ignoradas. Não espero desculpas, mas sim que o Brasil e seus cidadãos sejam reconhecidos e respeitados em Israel e no mundo.

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