Título: Aceno para uma aliança com Arruda
Autor: Filippelli, Tadeu
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2009, Política, p. 08
Deputado do PMDB acha natural a união com o governador do DEM e avisa que Roriz não tem apoio automático
Presidente do PMDB-DF, o deputado Tadeu Filippelli entrou na política pelas mãos de Joaquim Roriz e sempre foi considerado um discípulo, alguém sobre quem o ex-governador tinha ascendência suficiente para escolher seu destino político. Agora o jogo virou. Justamente no momento em que Roriz se afastou do mandato no Senado, depois da renúncia em julho de 2007, seu herdeiro político ganhou projeção nacional e voo próprio. Virou vice-líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados e conquistou apoio partidário para se eleger presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais importantes da Casa.
Roriz, por sua vez, precisa agora do apoio de Filippelli para virar candidato pelo PMDB a governador. Em entrevista ao Correio, o peemedebista evita responder diretamente a questionamentos sobre como o partido vai se comportar nas próximas eleições, mas deixa claro que Roriz não tem apoio automático dos peemedebistas para disputar um quinto mandato. Hoje aliado do governador José Roberto Arruda (DEM), Filippelli afirma que o PMDB precisa analisar a realidade local antes de tomar uma decisão sobre candidatura própria. Para Filippelli, o importante para o PMDB é ¿participar das decisões¿.
Entre as possibilidades para 2010, Filippelli aposta numa aliança entre DEM, PMDB e PSDB, com a participação de Roriz. O presidente do PMDB é cotado como candidato ao Senado, mas também é lembrado como possível vice em chapa encabeçada por Arruda. Sobre essas conjecturas, ele é sempre evasivo: ¿Ainda é muito cedo para discutir 2010¿. ¿Existem alguns exercícios nesse sentido (de acordo para a candidatura ao senado). Isso é levado em conta no exercício político¿
Em 2006 o senhor fez campanha contra o governador Arruda, mas agora é aliado do governo. O que aconteceu? Ninguém foi mais coerente do que eu na caminhada política. Estive ao lado da candidata Maria de Lourdes Abadia, abri mão de apoios de candidatos a deputado distrital. Fui extremamente claro nessa posição. Passado o momento de embate eleitoral, se ficarmos separados, prejudicaremos o Distrito Federal. Juntos, com o PMDB unido, podemos ajudar o GDF.
É possível dizer que o PMDB está unido no DF? Temos uma unidade na linha de trabalho. Nunca tivemos tanta unidade como agora. Prova disso são as reuniões mensais, com a participação de todos os integrantes do PMDB.
Mas essa unidade conta com o ex-governador Joaquim Roriz? Ele tem trabalhado pela candidatura ao Executivo, enquanto o partido apoia o governo Arruda¿ O ex-governador Joaquim Roriz é uma grande liderança do Centro-Oeste. Merecedor de nossas homenagens, sem dúvida nenhuma.
Roriz terá o apoio do partido para a candidatura ao GDF? Entendo que é muito cedo para discutir isso. O próprio ex-governador Roriz me ensinou que ninguém é candidato de iniciativa própria, e sim de um grupo político, de um partido político. Neste momento, todos os partidos estão em busca de definições, até por conta das decisões em torno do projeto nacional. Não é o momento para esta ou outra solução partidária.
Se a candidatura fosse hoje, ele teria o apoio do PMDB? Não posso responder em tese. Grande parte do partido está no governo Arruda. Essas pessoas terão de fazer uma opção. Qual é a tendência? Não é o momento dessa opção. Neste momento, qualquer tipo de apoiamento é para ajudar a governar Brasília.
Ou seja, Roriz não tem apoio automático? Não. Tudo ainda será discutido no partido.
O senhor tem um acordo político para ser candidato a senador, com o apoio do governador Arruda? Existem efetivamente alguns exercícios nesse sentido. As próprias pesquisas indicam que o meu é um dos nomes que têm boa perspectivas para o Senado. Isso é levado em conta, sem dúvida, no exercício político.
O senhor acha que se o ex-governador Roriz não conseguir impor a vontade dele, ele terá condições de conseguir uma intervenção nacional contra o senhor? Não haveria motivo. O partido em momento algum manifestou qualquer gesto de hostilidade a ele. Basta ver na inauguração do escritório político dele, quando os deputados, suplentes e a executiva estiveram presentes, num gesto de carinho.
Mas o senhor e outros peemedebistas que estão no governo Arruda foram vaiados¿ Não posso responder pela claque, do trabalho de base, de campo dele. Só posso responder pelos nossos gestos.
Por que o senhor acha que foi vaiado? Desconheço.
O senhor acha que é por causa do apoio ao governo Arruda? Não. O próprio ex-governador Roriz mostrou simpatia a Arruda na campanha. Portanto, não poderia estar aborrecido hoje com qualquer tipo de interlocução do PMDB com o governo. Além disso, a deputada Jaqueline Roriz, que é filha dele, ostenta o nome Roriz, é uma apoiadora de primeiro momento. Desde a primeira semana, ela votou a favor do governo e participa com indicações na estrutura do Executivo, o que mostra a sua influência.
Como o senhor se entendeu com o governo, Roriz também poderá apoiar a reeleição de Arruda? Tenho convicção de que haverá um grande entendimento nas eleições de 2010. Até porque, volto a repetir, eu vi muito mais esforço do Roriz na eleição do Arruda do que meu esforço em vê-lo eleito.
O senhor acha que o Roriz apoiou Arruda em 2006? Não digo que deu apoio. Mas ele manifestou um respeito muito grande, não deu nenhum gesto de hostilidade e também não recebeu por parte de Arruda nenhum gesto de hostilidade, a ponto de o DEM não lançar candidato ao Senado que poderia provocar qualquer dificuldade para Roriz.
O senhor já foi preterido pelo ex-governador Roriz? Nunca. Política se faz em grupo e chega a hora de cada um.
O senhor foi cotado a governador, vice e virou candidato a deputado¿ Entendo que foi bom para mim. Nesses dois anos e meio de mandato, consegui exercer a vice-liderança do PMDB, a maior bancada federal, fui eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que é sem dúvida nenhuma uma das comissões de grande importância.
O seu crescimento combina com um momento em que Roriz teve uma queda. O senhor atribui a sua projeção a uma carreira solo? Sempre fui solidário a Roriz, no exercício do governo, nos momentos em que a oposição venceu e ele se retirou do Brasil, no momento da renúncia. Acho que a vida política de cada um é feita pelo trabalho de cada um. Tenho muita gratidão pelos anos de convivência, mas nos últimos dois anos e meio, eu consegui lograr êxito em todo esse projeto com grandes parceiros no segmento federal.
Embora o senhor diga que não é o momento de trabalhar para as eleições, qual é o projeto do PMDB para 2010 no DF? Qualquer presidente de partido defende candidatura própria. Mas logicamente a realidade também é um dos componentes da vida política. Não havendo condições (para candidatura ao governo), sem dúvida nenhuma, o PMDB deverá fazer alianças, compondo e participando, nunca a reboque, de contrapeso apenas. O PMDB quer participar das decisões políticas e disso não abre mão.
Também se cogita que o senhor seja o vice na chapa de Arruda¿ Volto a dizer que nem sabemos quem são os nomes. Pelo próprio andar da carruagem, caso Arruda seja candidato a governador, em defesa de seu grupo político, acho que a primeira possibilidade é o respeito à figura pública do vice-governador, Paulo Octávio.
O senhor acha que o governador Arruda já trabalha como candidato à reeleição? Pelo meu sentimento, sim. Vejo um sentimento do grupo de Arruda que quer vê-lo reeleito e também de grande parte do segmento político. E é extremamente justa a candidatura do Arruda, como é justa também a de Roriz, do (Geraldo) Magela, de Agnelo (Queiroz) e do Paulo Octávio.
Arruda faz um bom governo? Tenho algumas considerações. Mas ele tem mudado muito, na forma de ouvir, de buscar ideias, na forma de montar o governo dele, com diversos segmentos políticos. Isso mostra que ele busca um grande arco de alianças. Portanto, acho que evoluiu demais. Ele tem adotado uma vertente democrática que só tem contribuído para a melhoria do governo.
O presidente Lula já sinalizou que gostaria de ver o governador Arruda na base do governo federal. O PMDB é um partido da base. O senhor aceitaria Arruda no PMDB? Olha, seria impossível responder isso porque, diante do conjunto de regras eleitorais, ele não poderia mudar de partido.
Mas a reforma política não vai mudar esse quadro? O senhor acredita que o Congresso vai abrir a janela para mudanças partidárias? Não acredito numa reforma política profunda, mas alguns aspectos serão discutidos. Um deles entendo que seja a janela.
Então a gente pode voltar para a pergunta anterior¿ Teríamos de falar em tese. Seria complicado.
Existe alguma conversa nesse sentido, algum convite para Arruda se filiar ao PMDB? Não, de forma nenhuma. Ele já foi convidado por mim em 2006. Ele optou pelo DEM. O momento político é outro.
Qual cenário o senhor vislumbra em 2010? Um cenário possível seria uma aliança entre PMDB, PSDB e DEM, com a participação do ex-governador Roriz.